Brasília e brasileiros de férias
As três melhores coisas de Brasília não tiram férias: o sol, o clima e o céu, que parece cenário de filme ou peça de teatro. O Judiciário está de férias e o Congresso, em recesso. O Executivo vai tocando, mas com férias de funcionários. Os escândalos também estão meio assim de férias, que no Brasil nunca se sabe, e precisamos até de uns profetas do passado ou do cotidiano para ver e entender alguma coisa.
No sábado de céu de brigadeiro em férias, a cidade está calma, os corredores dos hotéis estão silenciosos, e o Plano Piloto descansa. O silêncio só é cortado por motos ou carros que passam zunindo, sonhando com a Fórmula 1. A cidade não pode dispensar as corridas e as pistas. Brasília segue sendo um grande autorama, e os motoristas adoram correr, talvez para compensar o ritmo lento e o ar de aquário da cidade. Na piscina do hotel, três da tarde, só um senhor de meia-idade vai tomando, devagarinho, sua garrafa de scotch e não quer papo nem com o smartphone.
O uísque é o cachorro engarrafado - dizia Vinicius de Moraes, amigo íntimo do destilado, de outras coisas e de pessoas. Os esquemas, as conversas e tudo mais dos poderosos, neste momento, devem estar acontecendo, ou não, em praias distantes, cidades turísticas e outros cenários conhecidos ou não, pois a Capital está de férias, e os brasileiros também curtem, tipo assim, umas férias do noticiário tenebroso que promove esse estresse federal e o desenvolvimento da indústria dos calmantes.
Alguns turistas visitam o Museu Nacional da República, a catedral, passam pela frente dos Palácios da Justiça, do Itamaraty, do Planalto, da Alvorada e passeiam pela Praça dos Três Poderes, onde observam a escultura da Ceguinha, que fica em frente ao Supremo Tribunal Federal. O Supremo, aquele que tem o direito de falar, acertar e/ou errar por último, e dizer o que a Constituição Federal quer dizer, no prazo que julgar adequado. Do alto do 20º andar, de um prédio no Setor Hoteleiro, o contribuinte pode apreciar o lago Paranoá, que parece de verdade, a esplanada dos ministérios, as Torres Gêmeas do Congresso, os setores residenciais, comerciais, autárquicos e tudo mais.
Em alguns momentos, o visitante pode achar que já temos algumas ruínas arquitetônicas do futuro e se perguntar se um arquiteto, por mais genial que seja, tem mesmo o direito de pensar uma cidade toda, dizendo onde as pessoas vão trabalhar, morar, passear, sonhar, e outras atividades mais. A população vai fazendo seus necessários ajustes, vai arrumando a casa do jeito que gosta, vai plantando muitas árvores e criando vidas, histórias, e até mesmo alguns mistérios em meio à claridade solar do cerrado, que a vida sem mistérios é muito chata.
Em agosto, as coisas voltarão ao normal, que o tempo não fica parado e é preciso seguir na nossa eterna construção e desconstrução pessoal e na tentativa incansável de fazer deste imenso território uma nação de verdade.
a propósito...
É bonito de ver os turistas, especialmente os mais modestos, visitando a Capital. Não parecem muito animados, mas no fundo sentem emoções com os símbolos da Pátria, especialmente com a grande bandeira da Praça dos Poderes.
Quem disse que ninguém vai a Brasília a passeio? É bom sonhar com o dia em que, além da arquitetura inovadora, do sol, do clima e do céu, os brasileiros vão admirar Brasília pela liberdade, pela democracia e por bons valores, que afinal aqui é terra de bisavôs, avôs, pais, filhos, netos, bisnetos etc.
Nossa Senhora Aparecida que nos ajude. - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/07/colunas/livros/574380-fantasia-contos-de-fada-e-terror.html)
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