13 de julho de 2017 | N° 18896
L.F. VERISSIMO
Um bufão
O presidente Trump está numa guerra aberta com a imprensa americana. Acusa a imprensa de espalhar notícias falsas sobre seu governo e de criticá-lo constantemente e sem razão. Seus maiores inimigos, segundo ele, são o New York Times e a rede CNN, mas a crítica mais consequente a seus desmandos é feita pelos humoristas de televisão.
Não há programa, principalmente os veiculados tarde da noite, em que o apresentador não dedique seu monólogo inicial a gozar do Trump e a chamá-lo de tudo, de mentiroso a débil mental. Trump reage discriminando os jornalistas inimigos e dificultando seu trabalho na cobertura da Casa Branca, além de responder às gozações dos humoristas nos seus já célebres “tweeters”.
O eleitorado de Trump está adorando a guerra. Instituições como o Times e outros jornais respeitáveis representam o poder liberal que a direita americana odeia. A CNN não pode ser chamada de esquerda, exatamente, mas também é incluída pelos conservadores na frente liberal que trai os valores tradicionais da América e que Trump combate. Entre os grandes jornais americanos, só o Wall Street Journal, mais voltado para os negócios, não é suspeito de liberalismo oculto.
O Wall Street Journal é da direita elegante. A verdadeira face do extremo conservadorismo americano não está em nenhum dos jornais chamados respeitáveis, mas no rádio. Se você quiser ouvir a voz da direita nos Estados Unidos, ligue o rádio em qualquer lugar do país, especialmente algum lugar da América profunda. É uma voz cheia de ódio e preconceitos, e atinge muito mais gente do que todos os jornais, respeitáveis ou não.
Quando Trump começou a fazer bobagens, no dia seguinte a sua posse, começou-se a prever quanto tempo duraria seu governo antes de um provável impeachment. Não contavam que o que a imprensa respeitável criticava e os humoristas gozavam era justamente o que seu eleitorado queria, um bufão para pôr todas as pernas liberais para o alto, a começar pela imprensa.
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