11 de julho de 2017 | N° 18894
DAVID COIMBRA
Homem-Aranha, Mulher-Maravilha e ele
O problema é que esses “supers” são poderosos demais. Isso me incomoda. Gostei do Homem-Aranha e da Mulher-Maravilha, o Bernardo também (a Marcinha, só da Mulher-Maravilha), mas aquilo de eles quebrarem paredes de tijolo com os ombros e resistirem a explosões de dinamite destrói a verossimilhança.
Tudo isso é culpa do Super-Homem. O Super-Homem é indestrutível, as balas ricocheteiam no peito dele, ele voa até a Lua e é tão forte, que detém um trem desgovernado só com um braço, além de ter aquela visão de raio X e a superaudição. O sucesso do Super-Homem fez os autores de quadrinhos inventarem heróis parecidos, invencíveis. Um erro. Porque tenho certeza de que o Super-Homem ganhou popularidade apenas por causa da kriptonita. Foi a kriptonita que o tornou menos “super” e mais homem, o que foi bom para ele.
Aí é que está. As pessoas anseiam por um herói, por um salvador, por alguém que esteja acima delas, mas ele não pode ser perfeito. Alguma fraqueza humana haverá de afligi-lo, exatamente para que as pessoas se identifiquem com ele. É o princípio do populismo. O populista competente sabe que tem de fazer rir. O fato de ele vez em quando ser engraçado suaviza sua imagem e faz com que o homem comum pense: ele é como eu, ele sabe o que estou sentindo, por isso pode me defender.
Não é por outra razão que o Homem-Aranha é o personagem mais popular, dentre todos. Porque o Homem-Aranha é um adolescente, está sempre lidando com tensões com amigos ou namoradas e, às vezes, ele só não apanha porque é rápido como um inseto. Mas, no filme, o Homem-Aranha resiste até a blocos de concreto caindo sobre sua cabeça. É demais. E a Mulher-Maravilha tem lá umas pulseiras que seriam muito úteis em Porto Alegre. Os bandidos dão tiros nela e ela afasta as balas com as pulseiras. Até de costas ela se defende das balas. Os caras dão tiro e, tzóin!, a bala bate na pulseira e volta. Do que são feitas aquelas pulseiras?
Por favor! Mesmo um grande herói tem de sentir medo ou apresentar algum traço de humanidade, ou ninguém gostará dele. Por que os brasileiros preferiam Garrincha a Pelé? Porque Pelé era perfeito. Ninguém, a não ser Pelé, é perfeito. E ninguém, a não ser Renan Calheiros, é tão poderoso.
Ah, Renan Calheiros! Como os super-heróis se tornaram poderosos demais, os roteiristas tiveram de criar supervilões com superforça e superpoderes equivalentes. Mas nunca imaginaram um como Renan Calheiros.
Stan Lee, se conhecesse Renan Calheiros, o transformaria em supervilão da Marvel. Quiçá o maior de todos, o líder dos vilões, mais ardiloso que o próprio Doutor Destino. Ninguém tem tantas artimanhas quanto Renan, ninguém tem tanta capacidade de derrotar os agentes da lei. Renan deve possuir algum raio invisível que submete tribunais, parlamentos e governos, deve ser dono de alguma fórmula sobrenatural que o habilita a antecipar os movimentos dos inimigos e saber para onde ir.
O STF mandou Renan sair. Renan disse que ia ficar, e ficou. Depois, elogiou o STF.
No impeachment de Dilma, Renan inventou a mezzo condenação-mezzo absolvição, e foi o que passou.
E agora transformou-se em oposição do governo do partido do qual ele era o líder. Ou seja: você já sabe o que vai acontecer com o governo.
Preste atenção nele, mister Stan Lee. Nada jamais deterá nosso Doutor Silvana, nosso Lex Luthor. Nem a teia do Homem-Aranha, nem as pulseiras da Mulher-Maravilha, nem as investigações da Lava-Jato.
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