05 de agosto de 2015 | N° 18248
DAVID COIMBRA
Estamos salvos
Sempre ouvi dizer que, se o brasileiro discutisse política com a mesma intensidade com que discutia futebol, todos os problemas do país estariam resolvidos.
Bem...
Será que evoluímos? Será que estamos prestes a resolver todos os nossos problemas? Ou será que, agora, é o futebol que vai decair?
Tenho medo do futuro da dupla Gre-Nal.
Outra possível prova de nossa evolução está na frase célebre de Nelson Rodrigues:
“Toda unanimidade é burra”.
Isso no tempo dele. Hoje, qualquer unanimidade é impossível.
Estaremos mais inteligentes?
Brizola versus Gre-Nal
Essas coisas de agosto.
Um importante Gre-Nal estava marcado para um domingo de agosto de 1961, exatamente como está marcado para o domingo do agosto que ora vivemos.
No agosto d’antanho, o Gre-Nal não foi realizado. Suspenderam-no porque, dois dias antes, o presidente da República, Jânio Quadros, renunciara. Suponho que, então, como agora, falava-se mais de política do que de futebol.
Quem iria querer saber do veloz ponta colorado Sapiranga ou do clássico zagueiro gremista Aírton Ferreira da Silva, se quem reluzia, faiscava e coruscava era Brizola?
E a boa nova andar no campo
Entrevistei Brizola sobre aquele agosto. Deu-se, o nosso encontro, 30 anos depois, em 1991, que em 61 eu ainda não existia. Brizola era governador do Rio. Fiquei dois dias de plantão, passando calor no belíssimo Palácio das Laranjeiras, até que ele concordasse em falar.
O Brizola governador do Rio de Janeiro, aos 66 anos de idade, lembrava-se de pormenores do Brizola governador do Rio Grande do Sul, aos 36 anos de idade. Lembrava-se de como chovia com abundância em Porto Alegre quando Jânio renunciou. De como ele desconfiou que os generais ficaram sabendo da renúncia antes dele, durante o desfile militar que estava sendo realizado e que foi interrompido, segundo alegação, por causa da chuva. De como ele próprio tomou conhecimento da queda de Jânio, por meio dos seus assessores de imprensa, que foram informados pela France Presse.
O que não recordo é se Brizola creditava quaisquer dos acontecimentos a alguma solércia de agosto. Nem recordo se Brizola era supersticioso. Tinha aquilo de sempre usar camisa azul com as mangas dobradas, mas desconfio de que era mais por praticidade do que por superstição.
Não sou supersticioso, embora reconheça as coincidências. Em outro agosto brasileiro agitado, o de 1954, Getúlio se matou com um tiro no coração.
O que acontecia no futebol gaúcho de então?
O Renner interrompeu uma sequência de 25 anos de vitórias da Dupla Gre-Nal e conquistou o campeonato. No ano seguinte, a hegemonia da Dupla foi retomada.
Em 1961, também houve uma interrupção de hegemonia: o Grêmio de Foguinho era pentacampeão, o Inter ganhou naquele ano e, depois, o Grêmio encarreirou sete títulos, até 1969.
Crises e clássicos de agosto. Como será que estaremos, quando entrar setembro? A boa nova andará nos campos? Teremos plantado perdão para que o vejamos brotar? Não sei, não sei, não temos plantado perdão.
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