18 de agosto de 2015 | N° 18265
HUMBERTO TREZZI
O dilema dos delatores
Delatar não é apenas um dilema moral. O colaborador deve perceber a hora de entregar tudo que sabe aos investigadores. Quanto mais tarde, mais difícil fazer um acordo. Um dos investigadores da Operação Lava-Jato confirma: condenado pode fazer delação premiada, mas para diminuir a pena ante novas condenações. Nesse caso, as autoridades vão ponderar se vale a pena ouvir o que ele tem a dizer ou se condená-lo mais uma vez é a melhor resposta à sociedade.
Diante do peso das condenações que já ocorreram no âmbito da Lava-Jato – penas de 16, 15, 10 anos para dirigentes da Camargo Corrêa e OAS, por exemplo – parece ser um bom negócio se tornar delator. Não imagine o leitor que é possível pegar uma só pena dessas por todas as vezes em que o empreiteiro pagou suborno. Não, não...
Ele pega uma pena para cada fato delituoso. Ou seja, se pagou propina para ser favorecido em um contrato da refinaria Abreu e Lima (em Pernambuco), a condenação se refere apenas a esse episódio. Se ele subornou alguém para obter contrato na refinaria de Paulínia (SP), a condenação será outra.
Como a tendência é que alguns dirigentes de empreiteiras sejam condenados quatro, cinco, seis vezes, na medida em que os fatos fiquem comprovados (uma sentença diferente para cada fato diferente), vários vão se candidatar à delação premiada. Tentarão evitar o acúmulo de décadas de sentença por cumprir.
É o caso de Nestor Cerveró e Fernando Baiano. Apesar de já estarem condenados, eles prosseguem negociando colaboração premiada. Tentam conseguir, pelo menos, que as próximas e duras penas sejam cumpridas não em celas, mas em albergues.
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