terça-feira, 11 de agosto de 2015



11 de agosto de 2015 | N° 18256
ARTIGO - MARCELO RECH*

AUSTERIDADE JÁ! 

Não deixa de ser irônico que o recorde negativo de popularidade da presidente Dilma ocorra no momento em que seu governo, finalmente, cumpre a penitência de tentar consertar uma década de farra com dinheiro público. Dilma purga porque adotou a austeridade tardia – na verdade, um corte de gastos na marra, no desespero de não deixar o país derrapar para o acostamento da economia mundial.

Tivessem os governos (desde o Brasil Colônia, ressalve-se) adotado a cultura da austeridade, que pressupõe planejamento e uso criterioso de cada centavo, e o país seria outro, muito mais justo, assentado naquilo que faz diferença de verdade, como educação de qualidade. Mas não: falar em austeridade segue vetado na política brasileira. Nenhum governante se imagina eleito se pronunciar a palavra maldita, muito menos se prometer que, uma vez no cargo, adotará medidas para restringir despesas àquilo que realmente importa ao contribuinte.

As votações em Brasília são um exemplo da sanha gastadora. Como reflexo de suas bases, deputados e senadores orgulham-se em defender toda sorte de aumento nas despesas públicas, mesmo que seja para dar mais reajuste aos servidores que já ganham mais. Parece natural, mas não é. O Congresso norte-americano, por exemplo, é obcecado em questionar novos gastos do governo, com a convicção de que este é o desejo dos que geram o suado dinheirinho dos impostos.

No Brasil, grassa a noção de que o governo tem bolsos infinitos. “O governo, na verdade, é um ente fictício”, alerta o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, um experimentado observador dos dois lados da moeda – o do Executivo e o do Parlamento. Governos são apenas intermediários que deveriam devolver os impostos em serviços e obras úteis para a sociedade. 

No Brasil, porém, os poderes praticamente se restringem a alimentar crescentemente suas próprias estruturas. E aí fica-se repetindo que a crise grega se deve à austeridade. Engano. O que se vê hoje na Grécia é a tentativa de remendar uma situação criada exatamente pela ausência de austeridade muitos anos atrás. Como estamos cada vez mais parecidos com a Grécia, que os deuses do Brasil, pelo menos, tenham comiseração de nós no futuro.

*Jornalista do Grupo RBS marcelo.rech@gruporbs.com.br

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