15 de agosto de 2015 | N° 18262
DAVID COIMBRA
Fica, Levy!
Houve dois avanços fundamentais no Brasil, dos tempos da ditadura militar para cá:
1. Nós decidimos que queremos, sim, ser uma democracia.
2. O Plano Real.
A opção pela democracia não é pouca coisa. Hoje você pode achar que isso é algo primário, que qualquer povo minimamente saudável quer ser uma democracia. Não é assim. Em primeiro lugar, porque o exercício da democracia não é fácil e a compreensão do que é democracia é mais difícil ainda.
Um país que dá à população o direito de votar não é necessariamente um país democrático. Um país democrático é aquele em que a população tem percepção sobre como funciona o sistema de pesos e contrapesos formado pela divisão dos poderes. É aquele em que a população respeita as leis por saber que é ela mesma quem as faz, através dos seus representantes. A lei está acima de todos, num sistema democrático, porque, num sistema democrático, a lei é a expressão da vontade popular.
Estamos caminhando para esse aperfeiçoamento.
No entanto, a democracia é frágil, porque seu equilíbrio depende de sucessos sutis. A democracia mais sólida do mundo, a americana, foi abalada pelo 11 de Setembro. O medo fez com que líderes americanos passassem a questionar se garantias de segurança não eram mais importantes do que garantias de direitos humanos. A democracia americana só foi salva pela hipocrisia: os golpes nos direitos humanos foram desferidos fora do território nacional, na base de Guantánamo.
A democracia brasileira, mais jovem e, por isso mesmo, mais inexperiente, corre mais riscos. O risco atual é o econômico, e aí entra a segunda conquista a que me referi no começo do texto. As irresponsabilidades dos últimos governos podem levar ao fracasso do Plano Real. Aí...
Aí... Aí não sei o que será de nós.
Vivi os tempos da Grande Inflação. Sei como era terrível. Há já 20 anos, o Brasil não sente essa dor. As pessoas não sabem mais como é. O dinheiro perdia o valor todos os dias. Você recebia o seu salário de manhã e, à tarde, via-o reduzido. Não havia como fazer planos. Qualquer negócio a médio prazo era arriscado. Ninguém tinha dinheiro na carteira, porque, fora do banco, o dinheiro estava sendo desvalorizado a cada hora. Os supermercados possuíam horrendas máquinas remarcadoras de preços. Os funcionários encarregados da remarcação vinham pelas prateleiras com aquelas máquinas e você corria na frente deles para pegar o produto antes que o preço mudasse. Não se falava em mais nada, no Brasil. Só na inflação.
A vitória sobre a inflação foi nossa maior vitória, junto com a normalidade democrática. Mas uma depende da outra. A instabilidade econômica leva à instabilidade política. Vejo a inflação ameaçando quebrar a barreira dos dois dígitos e estremeço. E, ontem, fiquei sabendo que Dilma recebeu um grupo de sindicalistas e de líderes do MST, entre outros movimentos, que prometeram sair às ruas “de armas na mão” para defender o mandato dela. E que eles gritavam: “Fora, Levy! Fora, Levy!”.
Não! Não! Fica, Levy!
Levy, justamente Levy é quem pode salvar Dilma. Levy é quem pode salvar o Plano Real. Porque Levy é quem pode corrigir os tenebrosos erros destes últimos governos. Torço para que Levy dê certo. Faça isso também, brasileiro. Torça por ele, se você for de torcer. Reze por ele, se você for de rezar. Ajude-o, se puder ajudar. Porque, se Levy falhar, os fracassados seremos nós.
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