sexta-feira, 28 de agosto de 2015



28 de agosto de 2015 | N° 18277 
MOISÉS MENDES

Mestres


Armou-se um alvoroço na entrada da Redação, em torno de um visitante, quando se iniciava o fechamento da edição de terça-feira. O fechamento é o momento em que ninguém tira o olho do computador. Repórteres e editores afogam a ansiedade vespertina em copões de café preto e muitos têm certeza de que não cumprirão os prazos para entregar as páginas prontas.

No fechamento, as atenções para algo estranho à edição somente seriam catalisadas hoje por uma aparição com o brilho da Carla Bruni. Quando se formou o grupo, com maioria de mulheres, ouviu-se ao longe:

– É o Sarkozy!

Uma cabeça se mexia, ao centro, abaixo do nível das outras cabeças. Alguém com a estatura do Sarkozy, mas não era o Sarkozy. Tratava-se do jornalista e professor Marques Leonam. Marques Leonam é o Buda do jornalismo, a lenda que anda. Raros, em qualquer área, desfrutam de tanta adoração.

Dos jornalistas da Zero, metade diz ter estudado com ele na Famecos/PUC (e metade desta metade pode estar blefando). A outra metade gostaria de ter sido aluna dele.

Leonam é para os repórteres o que Luiz Antonio de Assis Brasil é para os escritores. Quem não estudou com o Leonam ou não participou das oficinas literárias do Assis Brasil é tentado a dizer que um dia conversou com um deles, ou cruzou com os dois na Feira do Livro ou na PUC.

Dizer que foi aluno do Leonam ou do Assis Brasil é um carteiraço. Conto uma história. Há alguns anos, a colega Christianne Schmitt, da Economia de ZH, avaliava candidatos a uma vaga de repórter.

Duas moças ficaram para a final. Uma delas tinha Jornalismo e História e mais doutorado em Antropologia. Falava finlandês e estava aprendendo estoniano. Mas quem ficou foi a outra. A aluna do Leonam. Que pretendia fazer a oficina do Assis Brasil. Na prova de texto, um ex-aluno deles arranca com 1.650 pontos.

Leonam tem discípulos. Eu ouvi alguns dizendo: o Leonam não faria assim, imagina se o Leo- nam visse essa página, o Leonam detesta texto com pirâmide invertida, ou: se o Leonam tivesse nascido nos Estados Unidos, seria maior do que o Truman Capote.

Escrevo e revejo a cena de terça-feira, com as mulheres ao redor do Leonam, que, para completar, ainda é do Alegrete. Um ex-aluno do Leo- nam só baixa a crista um pouco quando tem pela frente um ex-aluno do Assis Brasil. Eles se respeitam. Agora, imagine como teriam sido os ex-alunos do Shakespeare.

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