13 de agosto de 2015 | N° 18259
L. F. VERISSIMO
Salada
Quem não for de esquerda na juventude não tem coração, quem não for de direita na maturidade não tem cérebro. Como todas as máximas categóricas, esta não resiste muito. Há criancinhas reacionárias do berço e velhinhos carbonários até a morte. Mas não deixa de haver algo de, digamos, antinatural num jovem que pensa como velho e num velho que pensa, e age, como jovem. Num caso, “coração” é sinônimo de consciência social, de ideal igualitário, de inconformidade com toda injustiça.
No outro caso, “cérebro” é sinônimo de uma sabedoria que vem com a idade, que não exclui o coração – já se disse que ninguém tem o monopólio dos bons sentimentos – mas repele a consciência ativa, que quer mudar o homem e o mundo. Goethe, se não me engano de alemão, personificou a transição natural de um jovem idealista para um velho conservador, que no fim da vida disse preferir a desigualdade à desordem. Conviver com a desigualdade para preservar a ordem, mesmo uma ordem injusta, seria uma das formas da sabedoria que vem com o tempo. O resto, para a direita, é infantilismo.
No Brasil, a definição do que são esquerda e direita naturais se complica porque vivemos numa espécie de salada ideológica de difícil explicação, para qualquer idade. O PT foi uma esquerda palatável no poder até que deixou de ser. O conservadorismo dominante engoliu o PT do sapo barbudo, como o Brizola chamou o Lula, mas não o digeriu.
Na primeira oportunidade – provocada pelos escândalos do próprio PT –regurgitou-o, e não para de regurgitá-lo. Enquanto isto, Dilma e Levy fazem um governo de direita, baseado no modelo de austeridade que martiriza a Europa, onde responsabilidade fiscal é outro nome para irresponsabilidade social. A política de direita do governo está sendo sabotada por um Congresso rebelde liderado por um conhecido líder da esquerda, chamado, deixa ver... Eduardo Cunha?!
A salada é tamanha, que você pode até lançar a tese de que, com a Operação Lava-Jato, está em curso o maior ataque ao capitalismo brasileiro de todos os tempos, com a investigação e a prisão de empresários que, com o sucesso internacional das suas empreiteiras, são ícones do nosso capitalismo de compadres. E viviam prósperos e em paz, formando seus cartéis, fraudando licitações, comprando políticos – enfim, o normal – até aparecer esse agitador comunista Sergio Moro, trazendo a desordem.
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