16 de agosto de 2015 | N° 18263
MOISÉS MENDES
O Trump verde-amarelo
São reais as chances de Donald Trump apresentar-se como o mais autêntico candidato republicano da direita, em todos os tempos, nas eleições americanas do ano que vem. Trump pode estar dizendo: chega de intermediários.
Até bem pouco, um sujeito como ele seria apenas o candidato exótico dos reacionários. Hoje, não. O bilionário é a mais recente aberração da democracia, com possibilidades concretas de sucesso nas prévias republicanas.
Você pode se perguntar sobre o porquê de não termos algo equivalente aqui. O capitalismo brasileiro não produziu uma assombração de rico-celebridade como Trump, talvez porque estejamos em estágio inferior.
Trump é qualquer um dos Bush elevado ao quadrado. Debocha de negros, gays, mulheres e mexicanos. Considera um republicano como Jeb Bush, o terceiro deles a aspirar à presidência, um fraco. E diz que John McCain, que já foi candidato do partido e é sobrevivente da guerra do Vietnã, não pode ser exaltado como herói, porque foi capturado pelos vietcongues. Trump não gosta de soldados que tenham sido capturados.
Quem um dia será o nosso Trump? Aqui, por mais que a esquerda se esforce, é difícil enquadrar adversários à direita como sendo de direita. Você não sabe ao certo o que possam ser os três pretendentes do PSDB ao governo, mas sabe que de direita eles não são.
Nem Alckmin, sempre citado como o mais conservador dos tucanos, tem posturas que possam ser enquadradas como de direita. Serra seria o social-democrata sobrevivente, das raízes do PSDB, mas até onde? E Aécio é Aécio. Até os mineiros pensam que ele é carioca. Se não sabem direito nem que é mineiro, quem apostaria nas orientações ideológicas de Aécio?
O nosso Trump ainda está por surgir. Você pode dizer que Levy Fidelix é o Trump que a extrema-direita brasileira merece, mas Fidelix é pobre e nem cabelo tem, quanto mais topete.
O que se sabe é que existe uma esquerda no Brasil, com muitas variações (PT, PC do B, PSOL, PSTU, PCO, parte do PV), mas não se encontra um agrupamento organizado de direita, mesmo que exista mercado. Talvez porque a nossa direita seja muito recatada para chegar ao ponto de oferecer lastro eleitoral como os que foram dados a um Trump, um Berlusconi, um Le Pen.
E, em meio a isso tudo, a esquerda que ainda sustenta o Planalto é tentada a concluir que só a direita volta às ruas, pela terceira vez neste ano, para que o governo seja derrubado por um golpe improvável, ou pelo impeachment cada vez mais distante, ou pelo cansaço, ou por uma tragédia.
Não é bem assim. Neste domingo, um amigo, um parente, um colega seu irá participar da passeata, mas você não poderá dizer que ele é de direita só porque se alinha à classe média (a velha e a nova) que pretende antecipar o fim do mandato de Dilma.
Mas se alguém ao seu lado disser, com absoluta convicção, que o Brasil é um país iluminado por ter se livrado dos velhos conceitos de esquerda e direita, que aqui tudo se confunde e se mistura, você pode então ter certeza de que essa pessoa é de direita.
Não há nada desabonador nisso, ao contrário do que pensa o próprio sujeito que é de direita e até classifica os outros como de esquerda, mas se nega a ser de direita.
Esse é o eleitor que viu sua aposta em Eduardo Cunha se esfarelar e continua à espera de um Donald Trump nacional com um topete mais charmoso que o do Bolsonaro. O Trump sonhado por esse eleitor pode surgir em uma passeata como a deste domingo.
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