Jaime Cimenti
O posto do avião, as aeromoças e as enfermeiras
Acredite: na Siqueira Campos, 1.100, atrás do Santander, hoje Correios, tinha um avião e nele funcionava um posto de gasolina, com bombas sob as asas. O Posto Santos Dumont, ou Posto do Avião. O aeroplano não decolou durante 32 anos e quase virou hidroavião na enchente de 1941, sabia? O "progresso" e uma construção o puseram abaixo em 1968. Pois é, tinha que ser logo em 1968, o ano triste, aquele que não acabou...
Voltei a trabalhar no Centro Histórico, passo por ali todo dia e esses tempos fiquei vendo fotos do posto no Face. Fotos diurnas, com automóveis sedãs pretos, Ford 51, Austin, Citroen, Chevrolets e tal. De noite, na época do posto, circulavam por lá umas meninas, trabalhadoras do sexo, que foram apelidadas de "aeromoças", devido ao cenário. Na praça Dom Feliciano, em frente à Santa Casa, as garotas de programa de lá eram chamadas de "enfermeiras". A cidade-sorriso sempre gostou de apelidos e, mesmo no inverno, até apresenta lances de humor.
Aeromoças. Saudades imensas das aeromoças e dos vôos dos tempos passados, especialmente os da Varig. Viajar de avião era um ritual. Gestos apropriados, roupas escolhidas, preparativos com antecedência e aquela elegância compassada num tempo em que nem os jatos andavam tão a jato. Aeromoças misses, sorrisos demorados, braços e pernas longuíssimos, intermináveis como os de adolescente, corpos de sílfides, maquiagem no capricho, uniformes estilosos, chapéus, sapatos, lenços, tudo cinematográfico. Cardápios, vinhos, cálices, guardanapos, talheres e pratos distintos e, ainda, a certeza e a tranquilidade de viajar em aviões que passavam pela famosa manutenção da Pioneira. Era outro céu.
Dizem que Marcello Mastroianni, genial ator italiano, tomou o mesmo avião 28 vezes para tentar encontrar uma aeromoça que tinha deixado ele nas nuvens. As aeromoças de antigamente eram seres flutuantes, celestiais, que faziam voar nossas fantasias e tinham mais tempo e disposição para sorrir e agradar os passageiros, especialmente os assustados, os que tinham medo de voar. Tudo nessa vida é passageiro, até as aeromoças antigas e a do Posto do Avião. Elas sorriam para todos, tipo alguns políticos, quando estão em campanha.
Nada mais encantador do que sorriso de candidato. Aeromoças estão sérias como estão as modelos e, aliás, feito a maioria das pessoas, que ficam mostrando os dentes só para os dentistas e para os espelhos. Smile, sorria, Jesus te ama. Um dia sem um sorriso é um dia desperdiçado, aprenda, acredite e sorria até quando estiver caminhando ou meditando. Sorria até sozinho. Mesmo com dor no coração, mesmo quando ele estiver arrebentando, sorria, como ensina a canção imortal do Charles Chaplin. Sorria, faz de conta que você está sendo filmado pelas câmeras do Fantástico, no Carnaval, no Sambódromo, enquanto assiste ao desfile da Mangueira.
A propósito...
Sempre é bom lembrar que, para sorrir, a gente movimenta uns 16 músculos do rosto e, para ficar carrancudo, movimenta algumas dezenas...Então, melhor economizar músculo, que grana está meio difícil de guardar, não é? Mesmo que você não seja aeromoça antiga, candidato a cargo eletivo ou vendedor de algum produto ou serviço, sorria. Sorria mesmo que você tenha lido os jornais e assistido aos noticiários de hoje e tenha tomado ciência da situação nacional e mundial. Sorria, mesmo que você seja colorado e tenha pagado para assistir o grenal. Sorria. Aí, de repente, sorrirão para você e a vida vai ficar cheia de dentes sorridentes.
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