28 de agosto de 2015 | N° 18277
MARCOS PIANGERS
Olha, pai!
Meu filho não sai do iPad. Meu filho não sai do videogame. Meu filho não sai do celular.
Meu filho não sai da frente da televisão. Nossos filhos não saem de dentro dos aparelhos eletrônicos que compramos com dinheiro suado em 10 vezes na loja de departamentos. Nossos filhos lembram alguém?
Lembram nós mesmos. Nós também não saímos da frente do celular. Não desgrudamos os olhos da TV. Estamos sempre no computador. Esses dias, aconteceu a cena mais triste e engraçada: minha filha dizia “olha, pai!” pela décima vez, enquanto eu lia e-mails do trabalho no celular. Ela, então, veio até a minha frente e se abaixou até ficar atrás do celular, de forma a entrar no meu campo de visão. “Só ficando aqui atrás do celular pra você olhar pra mim.”
Foi só mais um tapa na cara do papai, entre tantos que minha filha me dá. Cada tapa desses me faz um pai melhor. Passei a notar em casa, no restaurante, nos almoços de família: as crianças dizem “olha, pai!” o tempo todo. Estão pulando em um pé só, olha, pai! Estão descendo uma rampa correndo, olha, pai! Estão fazendo caretas engraçadas, olha, pai!
Nossos filhos não saem da frente dos eletrônicos porque olhamos pouco pra eles. E, quando pedimos pra que larguem o celular, o iPad e o joystick, é pra que eles comam, ou tomem banho, ou façam a tarefa escolar. Todas, atividades chatíssimas para uma criança. Sair do celular pra jantar, faça-me o favor! Nem você faz isso.
Experimente pedir pro seu filho sair do celular para fazer algo com você. Não uma obrigação, mas alguma coisa divertida. Algo que te faça realmente olhar pra ele, prestar atenção no que ele diz e faz. Experimente estar ali de verdade, sem o celular. De forma que ele não vai mais precisar gritar “olha, pai!”. Porque você já vai estar olhando.
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