12 de agosto de 2015 | N° 18257
FÁBIO PRIKLADNICKI
COMO NÃO SER VIP
Nunca entendi muito bem a lógica de exclusividade que rege nossas relações sociais. Camarotes, pistas VIP, pulseirinhas. Do ponto de vista das pessoas que inventam e frequentam espaços exclusivos, o legal é estar onde apenas poucos possam ir.
É uma lógica que não está apenas nos lugares de luxo: tempos atrás, apareceu um bar que não divulga seu endereço e seleciona os frequentadores com base em não sei que critérios. Certa vez, estive no tal bar e – surpresa – nada de mágico acontece lá. Grouxo Marx brincou com isso, certa vez, quando disse que não queria pertencer a um clube que o aceitasse como sócio.
O mundo da exclusividade é uma inversão de valores. Acho que devemos celebrar, pelo contrário, lugares democráticos, onde todos possam estar. No fundo, a graça de ser VIP é que a maioria fique de fora. Nós bem sabemos os efeitos desse pensamento quando aplicado à desigualdade socioeconômica. Embora nem tudo que é VIP seja regido pelo dinheiro – você pode ser apenas bem relacionado –, a lógica é parecida.
Qual o sentido do espaço VIP em um show de rock, que costumava ser a música dos outsiders? Hoje em dia, esse setor, que fica mais próximo do palco, chega a ocupar quase a metade da pista. Não me sinto muito à vontade sequer em vernissages fechadas para convidados. Prefiro visitar exposições de arte depois que são abertas ao público, que é, afinal, o melhor momento para contemplá-las.
Dá um trabalhão desconstruir o princípio de privilégio que se espraia das mais diversas formas. Assim como nossos políticos, que têm foro privilegiado quando são acusados de algo (e eles são acusados com alguma frequência), todos queremos brincar de exclusividade.
É como se jamais tivéssemos saído da escola: as crianças sabem ser bastante perversas com os coleguinhas. A antítese da exclusividade é a lógica da democracia. Nesse clube, todos são bem-vindos igualmente. Inclusive os que costumavam ser VIPs.
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