domingo, 23 de agosto de 2015


NATUZA NERY DE BRASÍLIA - JULIO WIZIACK DE SÃO PAULO

Novas exigências encurralam Sete Brasil


Petrobras só aceita que companhia opere 5 das 15 futuras sondas; dívida da Sete com bancos já chega a R$ 14 bi

Área técnica da petroleira resiste a projeto que pode elevar custos da estatal em momento financeiro frágil para a empresa

Sem o apoio necessário do governo, a Sete Brasil corre o risco de quebrar, por causa da resistência da área técnica da Petrobras. Na semana passada, quando a reestruturação da companhia estava praticamente acertada, a estatal colocou na mesa de negociação cerca de 15 novas exigências. Duas praticamente inviabilizam a Sete.

Publicamente, os envolvidos nas negociações dizem que estão próximos de um acordo. Mas, nos bastidores, sócios e credores da Sete acham que a Petrobras quer dinamitar a companhia.

Projeto do governo da presidente Dilma, a Sete foi criada para construir as sondas que a estatal alugaria para explorar o pré-sal, sem ter que construí-las e lançá-las em seu balanço.

Mas tudo mudou. No campo político, Dilma está empenhada em recuperar sua sustentação política. Na esfera econômica, o barril de petróleo despencou de US$ 100 para US$ 50 e o aluguel diário de uma sonda no exterior passou para cerca de US$ 300 mil. As da Sete custarão mais de US$ 400 mil por dia.

Os técnicos da Petrobras não querem pagar esse valor. Em um momento de recuperação, devido às perdas com corrupção, ela prefere alugar diretamente de estaleiros no exterior mesmo que, para isso, tenha de pressionar por uma mudança na legislação que obriga cotas mínimas de conteúdo nacional.

EXIGÊNCIAS FATAIS

Das novas exigências, a que mais afeta a Sete é a que a impede de operar as 15 sondas que serão contratadas. A estatal só aceita 5 e vetou participação minoritária da companhia nas empresas que vão operar as outras sondas.

Além disso, a área técnica da Petrobras queria o cancelamento dos contratos das sondas em que a Sete não cumprisse a cota de conteúdo nacional. Depois de muita conversa, concordou em aplicar uma multa, como já estava previsto. Mas acabou decidindo dobrar o valor.

A Sete reclamou porque essas mudanças quase anulam o retorno ao acionista. Mas, para tentar resolver, sinalizou que aceitaria as condições. Para ela, o tempo é um vilão.

A companhia só tem dinheiro em caixa para pagar funcionários, impostos e outros custos administrativos até, no máximo, o primeiro trimestre do próximo ano.

A dívida com os bancos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander) já passou de R$ 12 bilhões, no início do ano, para R$ 14 bilhões. Essas instituições aceitaram não executar já as garantias à espera de uma solução.

O prazo venceu em meados de agosto e, para pressionar a Petrobras, os bancos decidiram cobrar as garantias. Terão direito a 40% do valor e deverão recorrer à Justiça contra a Petrobras para reaver o restante.

O Fundo Garantidor de Construção Naval (FGCN), responsável pelo pagamento das garantias, não tem dinheiro suficiente e o Tesouro terá de injetar recursos.

Os principais sócios da Sete (BTG Pactual, Bradesco, Santander, fundos de pensão estatais e FI-FGTS, além da própria Petrobras) já começam a se preparar para o pior. O BTG, que já tinha feito provisão em balanço para perdas de até 30%, deverá ampliar para 50%. BB e Caixa também devem provisionar.

Se a Sete quebrar, estima-se que deixará um buraco de R$ 25 bilhões. Haverá quebra em cadeia de estaleiros e de empresas fornecedoras.

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