sexta-feira, 14 de agosto de 2015



14 de agosto de 2015 | N° 18261
ARTIGOS - MONTSERRAT MARTINS*

PARA EVITAR A RECESSÃO 

Uma vez, os estudantes de Direito fizeram camisetas com os dizeres “Se o seu namorado não faz Direito, eu faço”. Os da Publicidade então lançaram a sua, “Não basta fazer direito, tem que ser criativo”. A malícia universitária serve de metáfora para a crise do governo gaúcho, acusado de não fazer direito, nem ser criativo. 

O parcelamento atinge não só milhares de servidores, mas o conjunto dos milhões de gaúchos, porque, havendo menos dinheiro em circulação, o comércio e a indústria também se retraem. Isso obviamente gera um ciclo recessivo, tão certo quanto quem comer menos emagrece. No caso, não um emagrecimento saudável, mas sim um daqueles com risco de anorexia nervosa.

Mesmo economistas que ressaltam o papel do mercado sabem que o Estado contemporâneo tem seu papel na economia, como indutor do desenvolvimento. Na crise mundial de 2008, foi fundamental o papel de Obama aumentando a dívida pública dos Estados Unidos para injetar dólares em setores estratégicos.

Governos gaúchos anteriores, em crises semelhantes, usaram a criatividade, tal como no episódio do “empréstimo do Banrisul”, quando o governo se responsabilizava pela operação de modo que os servidores não pagassem juros para receber o complemento de seus salários com esse artifício bancário. Já foi feito e deu certo, nem precisa tanta criatividade assim para repetir uma medida que já evitou a recessão no passado. A prefeitura de SP e depois o governo do RJ conseguiram liminares na Justiça contra a dívida com a União, poupando bastante dinheiro em juros com tais medidas, muito justas por sinal.

Por que o governo gaúcho não recorreu a qualquer dessas alternativas citadas a título de exemplo, como saída emergencial para honrar o salário integral de seus servidores? A maior revolta contra Sartori não é a da oposição, mas, sim, a dos seus próprios eleitores, quase dois terços dos gaúchos, que esperam que ele faça direito e seja criativo.

Médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais*

Nenhum comentário: