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quarta-feira, 1 de junho de 2011
01 de junho de 2011 | N° 16717
MARTHA MEDEIROS
Um pulo até o Japão
Quando comentei com amigos que iria ao Japão, alguns duvidaram da minha sanidade, mas fui e voltei ilesa. Os tremores de solo foram poucos e a radiação não atormentou meu sono. Não sou de me impressionar facilmente, ainda que o Japão o tenha conseguido, mas por outros motivos.
Ninguém fala inglês, nem mesmo a meia dúzia que acredita que fala. Então, o jeito é levar uma dose extra de bom humor e alguma noção de mímica. E, se possível, levar também uma filha que arranhe o idioma japonês. Julia foi minha tradutora, intérprete, guia e mentora espiritual. Sem ela, eu não teria saído até hoje da estação de metrô Shinjuku, a mais movimentada do mundo, onde circulam cerca de 2 milhões de pessoas por dia.
Tudo é mega em Tóquio, e isso incluiu a disciplina, o respeito e a eficiência. Ninguém atravessa a rua fora da faixa de pedestre e todos aguardam o sinal abrir mesmo que Buda em pessoa venha dizer que nenhum carro surgirá em menos de meia hora. Não importa: espera-se. Tóquio, a capital mais eletrizante do planeta, calmamente aguarda a sua vez.
Há filas para tudo. Quase entrei em uma para ver um panda gigante no maior parque da cidade, mas preferi dedicar meu olhar aos magníficos templos que servem como oásis em meio ao futurismo da cidade. Vi prédios que desafiam a arquitetura convencional e constatei que mega é também a gentileza das pessoas. É o que há de maior em Tóquio: a educação.
O fato de eles entregarem o troco, devolverem seu cartão de crédito ou alcançarem qualquer coisa sempre com as duas mãos é de uma cordialidade comovente. Repare bem: usar as duas mãos é uma reverência, não uma banalidade. Um pequeno hábito que conceitua a mentalidade de uma nação.
Com mais de 30 milhões de habitantes, Tóquio é uma metrópole silenciosa, onde a pressa convive harmoniosamente com a paciência. Não ser um povo fominha é o que os torna tão avançados.
Claro que tudo que é muito contido fica devendo em vibração: minha filha foi a três shows de rock e estranhou a plateia ser também tão disciplinada. As pessoas ficam em pé na pista sem tocarem uma nas outras, respeitando uma distância protocolar, e as reações de entusiasmo são praticamente cronometradas pela banda, não se dá um único u-hu fora de hora. Japas não são barulhentos nem quando deveriam.
Até pensei em ir com ela, mas preferi dedicar meu tempo aos pagodes.
Foi uma viagem transcendental. Voltei devota de tudo o que eu temia não existir mais: o sorriso fácil, a consciência de que o coletivo só funciona quando cada um faz sua parte e a delicadeza como forma permanente de tratamento. O Japão está distante de nós não só por questões geográficas e de fuso. Está bem mais do que 12 horas a nossa frente. Está anos-luz à frente.
Uma ótima quarta-feira para você
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