sexta-feira, 24 de junho de 2011



24 de junho de 2011 | N° 16739
ARTIGOS - Montserrat Martins*


O século 21 e seus profetas

Os cientistas políticos já identificaram o fenômeno: movimentos sociais novos que se formam e difundem rapidamente, expressando as mais variadas questões cidadãs, absolutamente fora da iniciativa ou do controle dos partidos ou forças políticas organizadas.

Não só no Brasil, no mundo inteiro evidencia-se que os partidos políticos não acompanharam a velocidade das transformações sociais, perderam a capacidade de se colocar na “vanguarda” de tais movimentos, haja vista, por exemplo, as revoltas dos países árabes ou os protestos na Espanha.

O que falta ser dito é que não basta os partidos se atualizarem. Seria necessário que os jovens acreditassem neles como instrumentos de transformação social. Existe uma “memória acumulada” da civilização e ela depõe contra os políticos, os partidos e as doutrinas mais conhecidas, como assassinos de sonhos e traidores de ideais, burocratas que usam seus povos como “massa de manobra” para suas aspirações ao poder.

Os jovens estão mais desiludidos, são mais desconfiados em relação às instituições. Não querem se deixar levar por bandeiras que não tenham partido deles, não querem consagrar líderes que depois de conquistar o poder no establishment se esqueçam ou, pior, se voltem contra eles.

Exemplos na História não faltam. Numa carta de Proudhon a Marx, em 1846, o primeiro antevê o risco do stalinismo, alertando que “não nos transformemos em líderes de uma nova forma de intolerância; não posemos de apóstolos de uma nova religião, mesmo que seja a religião da lógica e da razão”. Marx descartou essa e outras preocupações de Proudhon rotulando-o como um “pequeno burguês”, a partir do que poucos cientistas sociais o estudaram a fundo como fez F.C. Prestes Motta em Burocracia e Autogestão, no qual antecipa questões atuais, como a hoje denominada “horizontalidade participativa”.

George Orwell em 1984, Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo e mesmo José Lutzenberger no seu Manifesto Ecológico (de 1970) também profetizaram o mundo do século 21, da “sociedade de massas” dominada por sistemas burocráticos voltados para o controle político da população, não para as necessidades reais desta.

Paul Singer nos explica que a China e a Rússia seriam na verdade um capitalismo de Estado, no qual a ausência da burguesia fez com que o Estado assumisse o papel de industrialização e de patrão dos trabalhadores.

Nem Marx, nem Freud (fetiches dos intelectuais no século 20) têm respostas para o século 21. Não é novidade, mas precisa ser dito com todas as letras, que fracassaram as fórmulas prontas. Outro profeta do estado atual de coisas, Rollo May, já antecipava, em A Coragem de Criar, o descrédito nos valores tradicionais e o vazio de alternativas. Repetir fórmulas não satisfaz mais e por isso, mesmo sabendo que não se cria do “zero”, é preciso avançar para novos paradigmas.

*Médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais

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