sábado, 25 de junho de 2011



26 de junho de 2011 | N° 16741
PAULO SANT’ANA


O direito à bicicleta

A praça é do povo como o céu é do condor.

O poeta poderia ter acrescentado que as ruas e avenidas são dos pedestres, dos carros, das motos e das bicicletas.

O direito de locomoção é fundamental na civilização.

E o que se nota em Porto Alegre? Nota-se que o direito de locomoção dos pedestres, dos carros e das motos são respeitados.

E que o direito de locomoção das bicicletas é violentamente desrespeitado.

Não há ciclovias, vias expressas para bicicletas em Porto Alegre.

Foram recentemente construídas em Porto Alegre a Terceira Perimetral e a duplicação da Avenida Juca Batista e não foram implementadas nelas, incrivelmente, ciclovias.

Desconhece-se aqui, irracionalmente, o direito das pessoas de andarem de bicicleta, de locomoverem-se por esse veículo de tradicional mobilidade em todo o mundo. Não há em Porto Alegre ciclovias de passeio. E o mais grave: não há aqui ciclovias de trabalho.

As pessoas têm direito a se locomover de bicicleta para passear, têm direito à bicicleta como meio esportivo e têm direito, principalmente, à bicicleta como meio de transporte para o trabalho formal e informal, ainda mais com as condições cada vez mais precárias do transporte coletivo por ônibus.

Em Porto Alegre, os ciclistas atuais, cerca de 15 mil, mais os ciclistas em potencial, cerca de 300 mil, são violentamente desrespeitados.

Isso mesmo, se tivéssemos ciclovias, poderíamos ter 300 mil ciclistas em nossa cidade, a transitar por cerca de 400 quilômetros privativos deles, segundo um estudo publicado pelo arquiteto Ricardo Corrêa em 2007. Nada disso, lamentavelmente, foi considerado por sucessivas administrações municipais em nossa cidade.

Isso precisa necessariamente ser modificado.

Chega a ser comovente ver os ciclistas se esgueirando, vindos da Restinga, pelos acostamentos da estrada. Comove também que na zona norte da cidade os ciclistas manobrem pelas ruas e avenidas, em direção ao Centro e outros arrabaldes, ou na direção inversa, sem nenhuma via ciclística expressa a ampará-los.

É imprescindível que se inicie a regeneração desse defeito desumano da cidade.

As pessoas, muitas delas dirigindo-se ao trabalho, têm o direito de usar a bicicleta como meio de transporte mais acessível e barato. Há alguns trajetos em que as pessoas chegam mais depressa a seus destinos por bicicleta do que se fossem usar transporte coletivo, em face dos atalhos.

E a tudo isso a cidade permanece cega e surda.

Até quando, prefeito Fortunati? Até quando, senhores vereadores? Até quando, cidade de Porto Alegre?

Sem bicicletas, ou reduzidas a número humilhante, Porto Alegre não se insere no mundo civilizatório.

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