terça-feira, 14 de junho de 2011



14 de junho de 2011 | N° 16729
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Férias de inverno

Por esta época, quando eu era adolescente, começava a doce expectativa das férias de inverno em Cachoeira. O mês de julho passado em minha terra ficou-me como umas das mais belas memórias de minha vida. Durante 31 dias eu não tinha outra preocupação que a de ser feliz.

E era. Tinha um sabor especial o reencontro com as amigas e os amigos. Mas o mais sedutor era o festival de reuniões dançantes, aniversários de 15 anos boates e bailes nos clubes. Ali floresciam amizades e namoros com vocação para durar toda a vida.

Lembro de um desses aniversários que foi celebrado numa fazenda, e no qual se dispôs um estrado de madeira por sobre a campina, onde os pares evoluíam, enamorados. Recordo de outro, na Casa das Araras, do qual conservo fotos até hoje.

Drogas? Nem pensar. O máximo que se permitia era uma cuba libre. Aliás, nem precisávamos de algum combustível extra, éramos movidos a amizade e amor. Esperar a chegada do carteiro era todo um exercício de impaciência, temperado de ternura e de curiosidade quando tínhamos o envelope fechado na mão.

Uma vez, minha namorada de Porto Alegre foi passar as férias em Cachoeira. Era uma garota extraordinariamente bela, e evoco aqui a tarde em que nos encontramos em um banco da Praça José Bonifácio. Mão nas mãos, olhos nos olhos, nunca nos sentimos mais próximos.

Era um momento excepcional vê-la assim tão linda, ao meu lado, sob as velhas árvores, ao fundo o céu multicolorido de minha terra, azul e rosa e brilhante na hora do crepúsculo. Depois nossos caminhos tomaram outros rumos.

Mas essa deusa não foi a única. Inconstante, tive muitas amadas. Volta-me ao pensamento uma garota de magníficos olhos azuis, a quem eu acompanhava até em casa depois de nos encontrarmos no Clube Comercial.

Não éramos namorados oficiais, mas eu tomava sua mão e navegávamos pela neblina, até que eu a depositasse sã e salva no palacete em que ela morava, no Bairro Rio Branco.

Nunca mais a revi. Nunca mais tornei a ser o adolescente que fui num tempo mágico de minha vida.

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