sexta-feira, 17 de junho de 2011


Jaime Cimenti

Cartas de amor de mulheres notáveis

Antigamente, bem antes do telefone e da internet, pessoas escreviam mais cartas. Cartas de amor, por exemplo e principalmente. Fernando Pessoa escreveu que todas as cartas de amor são ridículas, como as dele próprio. Disse que, se há amor, têm de ser ridículas e que, afinal, ridículas são as criaturas que nunca escreveram cartas de amor. Cartas de amor de mulheres notáveis, coletânea organizada por Ursula Doyle, traz missivas que vão de Ana Bolena a Emily Dickinson, passando pela correspondência pessoal da imperatriz Josefina e da Rainha Vitória.

Edith Warton, Mary Wordsworth, George Sand, Rosa Luxemburgo, Catarina de Aragão, Neli Gwyn, Claire Clairmont, Mary Wollstonecraft e Katherine Mansfield são algumas das outras celebridades que assinam as mensagens apaixonadas. Eram tempos de comunicação difícil, distâncias, problemas íntimos, pessoais e até políticos, envolvendo romances protagonizados pelas personalidades mais influentes da História.

Algumas cartas estão repletas de anseio e paixão, outras parecem espantosamente contemporâneas em suas visões de mundo e outras revelam como os assuntos do coração definem o curso da vida de uma mulher. Lady Mary Montagu escreveu a seu amado, antes de fugirem para casar, em 1712:

“Assusta-me o que estamos fazendo. Tens certeza de me amar para sempre? Tenho medo e tenho esperança.” A coletânea faz contraponto ao volume best-seller Cartas de amor de homens notáveis e mostra bem o outro lado da moeda: os desejos secretos de algumas das mulheres mais importantes da História, incluindo escritoras, artistas e princesas.

O amor nas mensagens assume inúmeras formas: equivocado, erótico, tórrido, ousado, mas sempre amor, que é o que interessa mais para as pessoas e para o mundo. “Esta noite meu amor por ti é muito estranho. Não o submetas à psicanálise. De repente, eu te vi deitado numa banheira de água quente, piscando para mim - teu belo corpo sedutor semissubmerso. Sentei-me na borda da banheira, de combinação, esperando para entrar.

Tudo no ambiente estava úmido de vapor, era noite e estavas bem letárgico”, escreveu a escritora Katherine Mansfield para John Middleton Murry, numa das cartas do livro. Cartas que mostram, acima de tudo, coragem, estoicismo, encanto, sagacidade e generosidade. Cartas de um tempo mais lento, mais romântico, quem sabe, ou será que as formas de amar e de amor sempre foram parecidas? Best Seller, 176 páginas, mdireto@record.com.br.

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