terça-feira, 21 de junho de 2011



21 de junho de 2011 | N° 16736
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Integração da América Latina

Quantas vezes foi sonhada a integração da América Latina? Inúmeras, com o conceito de “integração” variando muito, ora implicando uma dimensão utópica, que se concretizaria talvez na forma de uma federação de estados nacionais autônomos, ora sugerindo muito mais um caminho popular ao socialismo, com matizes variados, desde uma perspectiva unitarista e autoritária até uma ideia francamente anarquista.

Ao menos três momentos merecem registro: o tempo das independências (entre 1800 e 1830), o momento das ditaduras militares (anos 1960 a 1980) e o nosso período, este que pôs de pé a existência do Mercosul, com sua acidentada mas persistente trajetória.

A literatura e as artes estiveram presentes em todos eles. No tempo das independências, alguns ensaístas quiseram vislumbrar a união dos povos americanos, que se seguiria à libertação das antigas metrópoles, e muitos poetas igualmente versaram o tema.

Nos recentes anos de chumbo, talvez tenha sido a canção popular, com Chico Buarque e Caetano Veloso, com Violeta Parra e Mercedes Sosa, a arte mais forte. Hoje, com a impressionante mundialização dos mercados, é pouco nítido o empenho artístico na direção da antiga utopia ­latino-americanista.

Em outros momentos da história, a integração não foi ideada ou planejada, mas aconteceu de fato. Na virada do século 19 para o 20, uma forte onda de modernização alinhou algumas grandes cidades da América, que passaram a dispor de luz elétrica, automóveis e bondes, arquitetura art-nouveau e aquela moda que no Brasil ganhou o nome de Parnasianismo mas que na América de língua espanhola foi batizada de Modernismo – foi o tempo de Bilac e Coelho Neto, de José Enrique Rodó e Ruben Darío. Já no século 20, se vê a sincronia das vanguardas artríticas e literárias, com frutos duradouros e cada vez mais disponíveis para a leitura, por exemplo na figura maiúscula de Jorge Luis Borges.

Em seguida, entre os anos 1930 e os 1950, foi a vez do romance realista tomar a palavra. E veio o famoso “boom” da literatura latino-americana, misturando o ímpeto realista com o fundo cultural pré-colombiano e ibérico, indígena e popular, iletrado e fantasista, Juan Rulfo, Guimarães Rosa e García Márquez.

E agora? Alguma coisa nova circula nesse sentido, entre os países do subcontinente? De todo modo, é muito patrimônio já existente, que porém a gente nem enxerga em conjunto. Uma pena, uma perda para a inteligência.

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