O fácil de Haddad pode ser bem difícil E o ChatGPT?
MARIA ALICIA PERALTA Diretora do Carrefour O debate sobre o avanço da inteligência artificial (AI, na sigla em inglês) passa pelo volume de profissionais que serão afetados. Estudo feito por pesquisadores da OpenAI - criadora da ferramenta -, com a Universidade da Pensilvânia, projeta forte impacto. No mercado de trabalho americano, ao menos 19% dos profissionais podem ter mais da metade do trabalho afetado. Dos 1.016 cargos analisados, os mais expostos - o que significa que podem ser substituídos por máquinas - estão matemáticos, contadores, escritores, designers e jornalistas.
"Nossa análise sugere que indivíduos com bacharelado ou mestrado são mais expostos à inteligência artificial e softwares que utilizam essa tecnologia em comparação com aqueles que não possuem credenciais acadêmicas", diz um dos trechos mais espantosos do estudo. No grupo C, há 15 profissões consideradas "totalmente expostas", ou seja, podem desaparecer.
Faz parte das atribuições do ministro da Fazenda disseminar otimismo sobre as medidas implementadas e a implementar. Então, é compreensível que Fernando Haddad cumpra sua missão, mas o dever dos analistas é apontar os obstáculos nesse caminho. Depois que ficou claro que, para cumprir a meta de alcançar superávit de 0,5% do PIB em 2025, é preciso aumentar a arrecadação, o ministro e sua equipe têm afirmado que não haverá aumento de alíquota ou de carga tributária porque essa elevação será buscada de quem não paga imposto.
Antes de prosseguir, é preciso admitir: nada mais justo. No entanto, entre ser justo e ser factível, há um longo caminho. Na segunda-feira, Haddad antecipou as medidas arrecadatórias que virão antes da reforma tributária:
1. Fim da isenção de Contribuição sobre Lucro Líquido (CSLL) das despesas de custeio das empresas deve render, nas contas do ministro, arrecadação extra entre R$ 80 bilhões a R$ 90 bilhões. O efeito líquido é custo extra, sem contar a resistência que haverá.
2. Tributação dos sites de apostas esportivas renderia outros R$ 15 bilhões. Nesse caso, será difícil contornar.
3. Fim do "contrabando", com alvo em empresas que vendem online como se fosse uma transação de pessoa a pessoa, isenta de impostos. Leia-se sites internacionais como Alibaba, Shopee e Shein. É medida impopular, por ter virado alternativa de baixo custo ante preços crescentes. Haddad não estimou quanto renderia em arrecadação, mas documento assinado por seis entidades empresarias estimou a "sonegação" em US$ 100 bilhões neste ano.
Em resumo, haverá resistências em todas as frentes. Fácil, não será. Isso não significa que não seja factível, mas será preciso fazer um grande trabalho de convencimento - sem contar o enfrentamento de interesses diversos no Congresso.
Nas contas de Haddad, o novo marco fiscal precisa de uma arrecadação extra entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões para parar de pé. Outros cálculos circulam no mercado, mas ninguém quer cravar um número definitivo antes de ver o famoso texto legal do arcabouço, que só deve ser conhecido depois da Páscoa. Se não tiver kinder ovo, já vale um agradecimento ao coelhinho.
Maria Alicia Peralta é diretora executiva de Relações Institucionais e Engajamento do Carrefour, que assinou um termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Ministério Público depois do espancamento e da morte de João Alberto Silveira Freitas em Porto Alegre. Ontem, o grupo adicionou um compromisso previsto no TAC e outros três que, segundo Maria Alicia, vão "acima e além" do acordo.
Quais são as novas ações de combate ao racismo?
Depois da tragédia de Porto Alegre, estudamos o que mais fazer para evoluir na busca de equidade racial. Temos um programa novo, com conteúdo novo, que não está dentro do TAC. Já trabalhamos com a nossa segurança, internalizando e eliminando terceirizados. Nos últimos anos, desenvolvemos com a Universidade Zumbi dos Palmares um curso superior de dois anos, que terá aprendizado baseado em casos concretos e com foco em segurança humanizada, ou seja, cuidará das pessoas, não de bens materiais. O Carrefour será a primeira rede varejista com alunos nesse curso, mas não a única.
O Carrefour vai bancar o curso para seus funcionários?
Sim, 90 pessoas terão aulas presenciais na universidade. Queremos que seja adotado por outras empresas. Sempre pensamos no ecossistema, em fornecedores e parceiros. Esse é um programa para qualquer funcionário, que se identifique ou não como pessoa preta ou parda.
Também há programas específicos para pessoas negras?
Vamos fazer um desenvolvimento colaborativo interno, que a liderança negra pediu ao identificar obstáculos na vida de quem faz carreira no mundo corporativo. Vão trocar experiências, com conteúdos criados por eles e para eles. Não é um grupo de afinidade, é um treinamento feito a partir de vivências específicas. Também haverá um programa para startups de fundadores negros, para resolver problemas da empresa.
É parte do TAC?
Tem uma parte, de bolsas de estudo de inglês para pessoas negras, mas todos os demais estão acima e além do TAC.
Como está a aplicação dos compromissos?
Temos oito frentes, o TAC é muito focado em educação, com bolsas de estudo e permanência para cerca de 800 pessoas. Cerca de 5 mil faculdades se candidataram, ainda esperamos o resultado do edital. Agora, estamos selecionando alunos para 900 bolsas de inglês que terá intercâmbio na África do Sul. Priorizamos ações no Rio Grande do Sul, que foi a cena da tragédia. Com prefeituras e outras entidades, definimos ações voltadas a mulheres negras empreendedoras, com um programa para financiar o primeiro investimento. São mulheres que querem abrir um negócio e não tinham condições financeiras para começar.
O que o Carrefour já cumpriu do TAC?
Tem previsão de durar quatro anos, com ações todas apresentadas e aprovadas pelo MP. Dos R$ 115 milhões que concordamos em investir, cerca de R$ 68 milhões já estão comprometidos. No caso da bolsa de estudos, ainda não fizemos o aporte, mas os recursos estão reservados. Entre 60% e 70% da aplicação já está definida, não necessariamente desembolsada.
Se o TAC ainda não está cumprido, por que fazer ações "além e acima"?
Por entender que há ações que beneficiam o grupo. O entendimento do TAC era de que deveriam ser ações que independessem da atividade.
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