Choro Jazz Café abre suas portas
Espaço cultural no bairro Farroupilha vai receber shows, cursos e eventos, além de abrigar um café e um estúdio de gravação
Um peixe nadando em outro oceano. É assim que Césio Peixoto, 65 anos, doutor em Direito e proprietário do Choro Jazz Café, espaço que será inaugurado hoje, em Porto Alegre, descreve o olhar que recebe dos antigos colegas professores. - E realmente é isso mesmo, não é? - reflete o professor aposentado, um verdadeiro apaixonado pelo pandeiro. - Estou realizando um sonho.
Depois de lecionar Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por três décadas, Peixoto decidiu unir sua paixão pela música à educação musical, às artes plásticas e à gastronomia. Assim, nasceu o Choro Jazz Café, novo espaço multicultural localizado na Rua Santana, 51, no bairro Farroupilha. O local conta com uma cafeteria, que também serve almoços, um estúdio e áreas para receber eventos e oficinas.
Como a antiga fachada ainda indica temporariamente, o espaço inicialmente se chamava Café Estúdio Santana 51 e chegou a operar por quase um ano, a partir de maio de 2022, sem uma programação com grandes divulgações. Agora, buscando dar um maior enfoque artístico, com destaque para a música, foi repaginado e, assim, passou a se chamar Choro Jazz Café. O processo contou com a orientação do bandolinista, compositor, produtor e educador musical Elias Barboza, que assumiu a direção cultural do espaço.
- O espaço valoriza muito a arte, então as pessoas que entrarem aqui vão ver obras de arte espalhadas por todo o local - destaca o músico.
A inauguração, hoje, contará com show do Elias Barboza Quarteto, formado por Barboza no bandolim, Caio Maurente no contrabaixo, Lucas Fê na bateria e Luiz Mauro no piano. O espaço abrirá às 19h, com contribuição espontânea. O show se iniciará às 20h, com participações de Juliana Rosenthal na voz e de Peixoto no pandeiro.
A casa tem três andares e está sendo montada há seis anos por Peixoto, com o auxílio do artista e gerente do local, Jorge Luiz Piasson, que, além de criar obras artísticas no espaço, executou a reforma.
O primeiro andar conta com um café com três ambientes e um piano. No segundo, há um estúdio, com uma sala técnica e duas salas de gravação, onde também serão ministradas aulas de música. No terceiro andar fica o sótão, que receberá shows intimistas. É decorado com obras e instrumentos musicais, fixados por toda a parede.
- Fui construindo aos poucos o espaço, com muito carinho, olhando cada coisa, cada espaço - destaca Peixoto.
Educação
Durante quase dois anos, o antigo Café Estúdio Santana 51 esteve fechado para o público, sendo utilizado apenas para gravar um álbum do cantor de samba Nêgo Izolino. O estúdio também era emprestado para ensaios de outros músicos.
A partir de agora, o enfoque educacional e social será uma das prioridades. O ex-professor concebeu o Choro Jazz Café como um espaço para o desenvolvimento de projetos que apoiam quem deseja aprender música mas não tem condições financeiras. Haverá, portanto, cursos com bolsas.
Barboza ministrará o curso gratuito de Prática de Orquestra de Choro + Roda de Choro Didática, aos sábados, a partir de maio. Outros cursos também estarão disponíveis, com valores acessíveis. Peixoto ministrará um curso gratuito de Pandeiro Inclusivo, com foco em idosos, deficientes visuais e deficientes auditivos. As inscrições podem ser realizadas pelo link gzh.rs/cursos_choro.
A principal característica da casa será o multiculturalismo. Os frequentadores poderão apreciar, por exemplo, o samba de Nêgo Izolino e de Alemão Charles, o blues de Luciano Leães, o choro jazz de Elias, o jazz brasileiro de Jorginho do Trompete e a MPB de Flávio Medina.
- A minha vida toda eu toquei choro, mas tem crescido imensamente a minha admiração pelo jazz. Vejo em Porto Alegre o movimento de música instrumental, e também do jazz, muito forte. Cada vez mais estão surgindo projetos - acrescenta Barboza.
Nem sempre o choro dialoga com o jazz, mas o músico acredita que os dois têm tudo para isso:
- Dizem que o choro é o jazz brasileiro, porque ele também tem muito da improvisação, da liberdade dos músicos.
A programação musical promete movimentar o espaço já nas próximas semanas. No dia 17, Jorginho do Trompete e Luiz Mauro Filho se apresentarão. Já no dia 23, o Choro Jazz Café celebrará o Dia Nacional do Choro, com diversos chorões, a partir das 14h. No dia 29, o local receberá um evento de forró. Além disso, os sábados e domingos contarão com rodas de samba.
- Acho que a característica principal é essa: ser um local aberto e de inclusão. Acho que tem tudo a ver com esse momento que a gente vive da diversidade, da inclusão - avalia Peixoto.
- Espero que aqui se crie um ambiente acolhedor para todos, e a gente com certeza vai dar o nosso melhor, oferecendo uma música de qualidade - pontua Elias.
FERNANDA POLO
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