15 DE ABRIL DE 2023
FLÁVIO TAVARES
CAUSAS & CONSEQUÊNCIAS
Os crimes aberrantes de dias atrás, envolvendo crianças como vítimas ou como autor, despertaram indignação no país e levaram os governantes a prometer aumentar a repressão policial.
Há duas semanas, abordei aqui o crime de São Paulo, em que um menino de 13 anos assassinou a facadas uma idosa professora em plena sala de aula e feriu outras três. Apontei ser necessário ir às causas profundas, mas vejo que os governantes se preocuparam só com as consequências, como se a violência não tivesse origens.
Dias após, outro crime ainda mais atroz ocorreu em Blumenau. Um adulto invadiu uma creche e matou quatro criancinhas a machadadas. Depois, saiu calmamente e se entregou à polícia.
O ministro da Justiça na área federal e diferentes governantes estaduais prometeram agir, mas propõem medidas que ignoram as causas da insânia. Vão aumentar a vigilância nas escolas e as rondas de rua, como se instalar o "Estado policial" para reprimir o crime não fosse também reprimir a própria sociedade. Só faltou que propusessem que, ao lado de cada guri ou guria, haja um policial fardado?
As causas profundas da violência foram ignoradas. Ou geram um interminável debate sobre a responsabilização das redes sociais pela violência que nelas se propaga. As "redes" são os principais estuários do ódio, uma cloaca que reúne todas as pestilências.
O tal "mata-mata" dos videogames, por um lado, e as histórias infantis, por outro, nos acostumam ao crime desde a infância. Indago: o que são aquelas narrações em que o lobo mau devora a indefesa vovozinha para quem a netinha levava deliciosos docinhos?
As histórias infantis estão infestadas de medo e horror, mas são transmitidas de geração em geração. A transmissão do horror não pode ser encarada tal qual uma vacina que nos torna resistentes ao mal e nos livra da enfermidade.
A verbalização do horror acaba nos familiarizando com o próprio horror e o incorpora ao cotidiano, como se fizesse parte da vida.
Tão só no Rio Grande do Sul, o governo estadual promete mobilizar 1,7 mil policiais para vigiar áreas escolares. Esta visão simplista do horror, tratando-o pelas consequências e nunca pelas causas, talvez seja como tentar baixar a febre num doente dando-lhe água, sem ir ao que gerou a alta temperatura?
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