21 DE ABRIL DE 2023
FINANÇAS DAS FAMÍLIAS EM PORTO ALEGRE
Contas em atraso no maior nível para meses de março
Percentual subiu para 41,4% em meio a inflação e juros altos, desaceleração da economia e pagamentos fixos de início de ano
A dificuldade de pagar as dívidas em dia segue aumentando em Porto Alegre. O percentual de famílias com contas em atraso subiu para 41,4% em março - o índice havia ficado em 35,3% no mesmo período do ano passado e em 39,5% em fevereiro de 2023. Esse é o maior valor no indicador desde janeiro de 2018 e o mais elevado para um mês de março na série histórica com início em 2010.
Pagamentos fixos de início de ano, inflação e juros elevados, que corroem o orçamento familiar, e desaceleração da economia são alguns dos fatores que criam ambiente fértil para a escalada da inadimplência, dizem especialistas.
Os dados são de pesquisa mensal da Federação do Comércio de Bens e de Serviços (Fecomércio-RS) com base em relatório da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. O estudo é realizado apenas com famílias que moram em Porto Alegre, mas é analisado como retrato de todo o Rio Grande do Sul.
A economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, destaca que o levantamento é realizado na reta final de cada mês, portanto, os dados de março foram coletados nos últimos dias de fevereiro. Nesse sentido, o indicador ainda pega o efeito de alguns gastos extraordinários de início de ano, como IPTU e IPVA:
- Tem gente ainda pagando IPTU, IPVA. Então, essas coisas apertam o orçamento cotidiano e, obviamente, tem todo o reflexo de inflação e de taxas de juros maiores. Tudo acaba ajudando a empurrar as pessoas para situação de maior inadimplência.
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Maurício Weiss afirma que, além da inflação e do juro em patamares elevados, a falta de tração na economia do país também engrossa a dificuldade de manter as contas em dia:
- Tem a desaceleração econômica, especialmente no segundo semestre de 2022, e a combinação de juros altos com inflação alta. Fica mais difícil para as pessoas conseguirem renda para o consumo. E elas estão com mais dificuldade de fazer rolagem da dívida, provocando aumento na inadimplência.
Em relação ao impacto nos setores, Weiss aponta que o comércio de bens duráveis, principalmente os ligados a financiamentos e mais dependentes do crédito, é um dos mais afetados pela inadimplência.
Controle
Mesmo com a escalada nos lares com contas em atraso, o indicador que mostra a persistência da inadimplência segue baixo. O percentual de famílias sem condições de pagar nenhuma parte das dívidas atrasadas em prazo de 30 dias caiu para 1,8% - o menor patamar na série histórica. Olhando apenas as pessoas que têm dívidas em atraso, esse percentual fica em 4,3%. Patrícia afirma que esse movimento mostra que as pessoas em inadimplência seguem tentando evitar o descontrole dessa situação para garantir alguma forma de crédito:
- As pessoas olham para o seu orçamento e tentam pelo menos pagar alguma dessas contas em atraso para talvez evitar um grande acúmulo de dívidas, o que pode levar a uma situação de não acesso ao crédito. Está muito claro que o crédito faz parte do dia a dia do gaúcho, do porto-alegrense.
Desenrola
Uma das ferramentas do governo federal para tentar auxiliar os endividados, o programa Desenrola ainda não saiu do papel. Problemas operacionais na iniciativa travam o lançamento, segundo o Planalto. Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a ideia é incluir no sistema operacional toda a dívida que puder ser renegociada.
O fundo garantidor tem previsão de renegociar até R$ 50 bilhões em dívidas, de 37 milhões de pessoas físicas. Procurado, o Ministério da Fazenda informou que "não comenta programas em formulação" e que dará "ampla divulgação quando o anúncio for definido".
ANDERSON AIRES
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