sexta-feira, 14 de abril de 2023


14 DE ABRIL DE 2023
PARALELO 30

Emiliano dialoga com todos os sons

De repente, chega um disco com uma música diferente de tudo o que já ouvi: We Have a Dream, de Emiliano Sampaio. É música erudita, mas não é. É música popular, mas não é. É o que, então? A "definição" que me vem neste momento: é uma aurora boreal com as duas formas. Paulistano, formado na Unicamp, Emiliano faz música desde criança. Compositor, arranjador, guitarrista e trombonista, de 2009 a 2011 esteve entre os articuladores do Movimento Elefantes, coletivo que reunia mais de cem músicos em 10 big bands e agitou a cena instrumental de São Paulo. No ano seguinte foi estudar na Áustria - e lá está até hoje.

Seu currículo na Europa é vasto, atuando com orquestras e artistas de inúmeros países. No ano passado, recebeu do governo austríaco o Award of Excellence 2022, prêmio concedido às 40 melhores teses de doutorado no país, pelo trabalho Reestruturando a Hierarquia Musical entre Orquestras Sinfônicas e Big Bands, em que questiona a falta de liberdade e propõe inovações no processo criativo e interativo entre músicos de jazz e eruditos em grupos orquestrais. Seu 15º álbum, We Have a Dream, é uma aplicação desse projeto. O disco anterior de Emiliano, com seu Meretrio, chama-se Choros (2021), ele tocando choro na guitarra.

"Este álbum é a realização de um sonho antigo", diz, no texto do encarte, em que discorre sobre o projeto. Jovens, os 32 músicos de sua Jazz Symphonic Orchestra, do oboé à bateria, são oriundos de vários países e seguem à risca as orientações do regente: rigor e liberdade - ao mesmo tempo em que se esmeram, eles se divertem. Com frequentes surpresas, mas sem "facilidades auditivas", a sonoridade sinfônica perpassa o repertório (11 composições). Na sétima faixa, Popping, Chopping and More, o jazz tipo New Orleans é explícito. E a última, Old New Paths, traz um... frevo "de rua"! Pra quem gosta de MÚSICA.

Emiliano Sampaio dedica o álbum aos que lutam contra o racismo e a pobreza.

Zé Renato e a noite das canções

Nestes tempos digitais e "urgentes", parece que ninguém mais liga para as canções. Sim, as canções que atravessam o tempo coladas na vida da gente. Zé Renato pensou nisso ao idealizar Quando a Noite Vem, seu 18º álbum solo (que se soma aos outros com o Boca Livre, desde 1978). Como anota Charles Gavin no texto de divulgação, é um trabalho "no qual celebra lembranças, histórias, referências, influências, convergências e parcerias - um encontro dele com ele mesmo". Zé Renato se desarma de quaisquer personalismos, esquece que é compositor, para entrar na pele exclusiva do cantor - esse artista meio desvalorizado e em fins de carreira desde a entrada em cena do compositor-cantor, lá pelos anos 1960.

Produzido em parceria com a atriz Patricia Pillar, com alguns de nossos maiores músicos (Cristovão Bastos, Jorge Helder, Carlos Malta, Marcelo Costa), participações de Céu e músicos portugueses, Quando a Noite Vem é uma delícia aos ouvidos apreciadores do romantismo, digamos, clássico. Em inglês, a primeira faixa já instala o clima: I Can?t Stop Loving You (sucesso de Ray Charles). E aí tem Suave É a Noite (sucesso de Moacyr Franco), Bom Dia Tristeza (Maysa), Encantado (Bethânia), Arrivederci Roma (em italiano, Claudio Villa), Esta Tarde Vi Llover (em espanhol, Armando Manzanero) e mais. Canções coloridas, com clima meio melancólico. Zé Renato canta muito. Cumpre o prometido.

PARALELO 30

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