sábado, 15 de abril de 2023


15 DE ABRIL DE 2023
BRUNA LOMBARDI

DE QUEM É A IA?

Grandes mestres ultrapassam fronteiras, usos e costumes, linguagem, as mais diversas culturas, crenças e superstições. Porque o sentido da humanidade está acima disso tudo. Vai além de raças, gêneros e posição social. Trata do que nos une e não do que nos separa. A arte dos grandes mestres toca aquele ponto do sentimento universal. Grandes mentes nos elevam ao mais alto patamar do humanismo.

E agora, para onde vamos se as grandes mentes se tornam artificiais? Se a inteligência suprema será a de megacomputadores que acumulam todo o conhecimento do mundo? Atônitos, nos perguntamos e tentamos imaginar a cara desse futuro próximo.

Tenho participado de palestras, debates e mesas redondas com muita gente discutindo sua visão futurista, para alguns, otimista, para outros, apocalíptica.

Todo bom autor de ficção científica já escreveu alguma coisa sobre as máquinas dominarem o mundo. A criatura mata o criador, como numa das cenas mais poderosas e icônicas do cinema, no Blade Runner original, quando o androide finalmente consegue encontrar quem o fabricou e, entre amor e ódio, discute sua finitude, como um humano falando com Deus.

Sem levar em conta esse olhar fantasioso, máquinas são máquinas. E ninguém pode acusar uma máquina de nada, exceto talvez as impressoras, que realmente parecem ter vontade própria e só imprimem quando querem. Tudo o que usamos são ferramentas, criadas por pessoas e usadas por pessoas.

Muita gente discute as possibilidades alarmantes com as quais a AI nos surpreenderia. Muitos questionam se ela vem para o bem ou para o mal. Estuda-se a história da humanidade através de suas guerras, de suas conquistas e de sua arte para compreender o indivíduo e sua evolução. A arte traduz cada momento histórico e com certeza nos ensina mais do que as guerras.

Assim como os grandes mestres, a Inteligência Artificial atingirá a todos em maior ou menor escala. Para analisar o efeito da AI, é preciso entender por quem serão programadas as máquinas. Com que versão do pensamento humano serão alimentadas? Qual será a somatória de princípios éticos e morais? Qual a escala de valores? De quem elas serão a verdadeira tradução? A quem elas servirão?

Para Krishnamurti, não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente. Para ele, a verdadeira revolução não é violenta, ela vem através do despertar da inteligência e pela união de pessoas que podem influenciar e promover aos poucos, gradualmente, transformações radicais na sociedade.

O futuro desse mundo polarizado vai refletir quais correntes de pensamento? Que ideias e ideologias vão ser programadas na grande rede neural da Inteligência Artificial? Assim como em qualquer família o que é ensinado aos filhos vai definir o que eles se tornarão, as máquinas podem se tornar as poderosas mentoras da guerra, do ódio, do domínio e da segregação.

Ou podem seguir os grandes mestres e compreender o mundo através da arte, do conhecimento e inovação. A tecnologia traz avanços gigantes na nossa caminhada, mas quem a programa e usa é que vai definir nosso rumo.

BRUNA LOMBARDI

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