04 DE ABRIL DE 2023
NÍLSON SOUZA
O monstro digital
De repente bateu um pavor em relação à inteligência artificial. Pensadores, empresários e pesquisadores do setor de tecnologia, os próprios criadores da coisa, agora querem uma pausa de seis meses nas pesquisas do brinquedinho sob a alegação de que ele está se tornando uma ameaça para a sociedade humana.
A carta divulgada recentemente pelo Future of Life Institute, com a assinatura de 2,6 mil autoridades dos dois mundos - o analógico e o virtual -, tem advertências realmente assustadoras, entre as quais a de que as máquinas podem assumir o controle da civilização, como tentou o avô do ChatGPT, o computador HAL 9000, do célebre filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço.
Como sou do tempo em que odisseia ainda tinha acento e mal engatinho no ambiente digital, é evidente que compartilho desse medo. Se os conhecedores do assunto estão acionando o botão do pânico, o problema deve ser sério mesmo. Mas, confesso aqui com a minha ignorância, ainda tenho mais medo do senhor Putin, daquele homenzinho da Coreia do Norte e de todos os governantes que carregam uma maletinha com o botão atômico.
Até estava achando divertido brincar com as ferramentas de inteligência artificial que acesso no meu computador. Outro dia pedi ao GPT ilustrações para umas crônicas antigas que ambiciono publicar algum dia, talvez num livro póstumo. Vieram desenhos muito interessantes. Claro que pensei no Fraga, no Santiago, no Iotti e em outros desenhistas talentosos que conheci nas minhas vivências pelo jornalismo. Estariam eles ameaçados pelo robô? E a minha espécie de juntadores de palavras? O miserável escreve melhor e infinitamente mais rápido do que a maioria de nós.
Mas, até ontem, ainda escrevia e desenhava aquilo que pedíamos para ele. O problema, avisam os signatários da carta alarmista, é que ele já começa a tomar a iniciativa de fazer tudo por conta própria - inclusive mentir, fraudar e oprimir, o que parecia ser uma exclusividade nossa.
Pelo que entendi, os cientistas da era digital temem ter criado um Frankenstein tecnológico que pode sair por aí destruindo tudo. Não sei, não, mas acho que ele não vai se sensibilizar com a carta coletiva nem vai dar a mínima para a tal pausa - até mesmo porque vai ser bem difícil convencer russos e coreanos a suspender tais pesquisas nos seus domínios. Se suspendessem os bombardeios e os testes nucleares, já seria ótimo. Na comparação com certos humanos, o monstro digital ainda me parece menos ameaçador.
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