03 DE ABRIL DE 2023
OPINIÃO DA RBS
REATANDO LAÇOS
Após ter de cancelar a viagem à China devido a problemas de saúde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva remarcou a sua ida ao gigante asiático. Embarca no próximo dia 10. A expectativa é de que os dois países assinem mais de 20 acordos comerciais e de cooperação científica em várias áreas. Lula terá um encontro bilateral com o par chinês, Xi Jinping, que receberá um líder estrangeiro pela primeira vez após ser reconduzido ao cargo pela terceira vez.
Simpatias ideológicas à parte, é do interesse do Brasil manter relações pragmáticas e produtivas com a China. Desde 2009 é a nação que mais compra do Brasil, especialmente produtos primários, como minério de ferro, petróleo e soja. Mais recentemente, carnes se tornaram outro item relevante da pauta. A segurança alimentar para a gigantesca população de 1,4 bilhão de pessoas, sabe-se, é uma preocupação central de Pequim. O Rio Grande do Sul também tem os chineses como principal mercado externo. No caso gaúcho, majoritariamente para a soja. Apenas no ano passado, o Brasil embarcou para lá o montante recorde de US$ 89 bilhões e recebeu o equivalente a US$ 60,7 bilhões.
O relacionamento entre Brasil e China, no entanto, passou por um período de maior frieza nos últimos quatro anos devido a declarações desastradas de membros do governo Jair Bolsonaro, inclusive do próprio presidente à época. Pode-se perfeitamente não aprovar o regime chinês, no qual diversas liberdades individuais são suprimidas, mas mesmo assim ter o discernimento de que o Brasil tem proveitos a tirar de um relacionamento sem solavancos com a segunda maior economia do mundo.
É saudável, portanto, revigorar os laços diplomáticos, assim como o governo vem fazendo com outros parceiros tradicionais do Ocidente após um período de maior isolacionismo.
A China, por outro lado, é um dos países que hoje puxam o progresso tecnológico e espalham investimentos pelo globo. Estima-se que os dois países tinham programado, para a visita de Lula, a assinatura de acordos nas áreas espacial, de transição energética, saúde, inovação, créditos de carbono, 5G e 6G, indústria automobilística, entre outras. Também seria objeto de aproximação sino-brasileira um compromisso no segmento de semicondutores, que, se especulou, poderia de alguma forma respingar positivamente na Ceitec, estatal de chips localizada em Porto Alegre que o governo Lula pretende reavivar. A conferir. Outras parcerias entre setores privados foram firmadas na semana passada com a delegação empresarial que embarcou antes de o presidente da República adiar a viagem.
Noticia-se ainda que Lula pretende conversar com Xi Jinping sobre um acordo para pôr fim à guerra na Ucrânia.
A China seria um dos países com maior poder de influência sobre a Rússia, e o presidente brasileiro, de uma forma ambiciosa, mas também cercada de certo ceticismo, tenta se apresentar como um facilitador na busca por uma solução que leve à paz. É outro tema a ser acompanhado. Mas o que tem maior potencial de produzir resultados práticos e palpáveis, de fato, é a agenda de negócios e cooperação, com a possibilidade de o Brasil receber mais investimentos, transferência de tecnologia e diversificar a pauta de exportação para a China.
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