segunda-feira, 3 de abril de 2023


03 DE ABRIL DE 2023
+ ECONOMIA

''Não pode ter desculpa ou viés na decisão de fazer o que é o certo''

Em 2021 e 2022, a Gerdau teve os maiores lucros de sua história. Não quer mais ser definida como siderúrgica, mas como produtora de aços que agrega serviços aos clientes, como diz seu CEO, Gustavo Werneck. E quer se tornar uma empresa B: vem certificando unidades, deve obter neste ano o da operação nos EUA e prevê alcançar em 2025 o "carimbo" que atesta desenvolvimento socioambiental em paralelo com os resultados. Empresas B buscam melhorar a sociedade, não apenas lucrar a qualquer custo.

Após dois anos excepcionais, há pressão por manter desempenho?

A gente não se estressa em repetir, mas se estressa muito para tentar ser a melhor versão de nós mesmos todos os dias. Tivemos os dois melhores anos da história e continuamos trabalhando muito para que isso se repita. Este ano tem tudo para ser também extraordinário para nós. Provavelmente não vai ser tão bom quanto 2021 e 2022, especialmente pelo momento que o Brasil está enfrentando, mas quando comparamos com 2019 para trás, entregaremos mais um ano excelente comparado com a série histórica. Aprendemos muito com os erros do passado, não queremos ter uma empresa alavancada, dívida alta. Queremos crescer com os pés no chão, hoje é muito mais importante a rentabilidade do que tamanho ou crescimento.

O que é a Gerdau hoje?

A gente não usa mais a palavra siderúrgica, por remeter à imagem de fábrica cheia de fumaça. Hoje, a Gerdau é uma produtora de aço que caminha para se tornar agregadora de serviço. Entendemos que os clientes têm necessidade de não consumir aço, buscam uma plataforma de soluções. A Gerdau já vem com essa proposta há alguns anos e quer ser uma provedora de soluções.

A Gerdau vai ser empresa B?

Vai, a decisão é ir certificando um negócio por vez. Obtivemos a certificação da Gerdau Summit, que é focada em aços para energias renováveis. Também a Gerdau Siderperu, nossa divisão no Peru. A Gerdau Next também vai ser certificada. O plano é que, ao longo de 2023 e 2024, possamos certificar todas as operações, de tal forma que, em 2025, a Gerdau seja uma empresa B. Neste ano, vamos certificar todos os projetos nos EUA. É uma jornada de muito aprendizado. Para nós, ser uma empresa B é ter um atestado de que, de fato, estamos engajados como protagonistas da transformação da sociedade. É um carimbo para mostrar que a Gerdau está comprometida em resolver demandas da sociedade.

Como está a inclusão de mulheres, pessoas negras e outros grupos minoritários?

É uma pena para a sociedade brasileira que tenha havido um despertar tão tardio para isso. Por outro lado, empresas como a Gerdau, que evolui para ser mais diversa e inclusiva, são incentivos para os outros negócios. Porque diversidade é um fenômeno observado, gostando ou não. A decisão de transformar em inclusão e equidade é do líder. Quando comparamos a percentagem da população feminina no Brasil, a participação de mulheres em cargos de liderança na empresa era pequena. Assumimos um compromisso público, está na remuneração variável dos novos líderes, de sair de 17% para 30% até 2025. Estamos em 25%. Isso comprova que não pode ter desculpa, viés ou dificuldade na decisão de simplesmente fazer o que é o certo. Estamos progredindo em pautas de gênero, raça, população LGBTQIA+ e pessoas com deficiência. E começamos a olhar para outros grupos sub-representados, como os egressos do sistema penitenciário. Se a Justiça determina que pagaram suas penas, precisam ter dignidade, ser reintegradas, ter emprego. Temos projetos-pilotos em algumas plantas que contemplam essa parcela da população.

Os maiores projetos da Gerdau estão em Minas Gerais, mas voltou a investir no Rio Grande do Sul. Vai seguir?

Minas Gerais é um Estado em que a mineração está até no nome (risos). O RS está nas nossas raízes, é onde tudo começou, há 122 anos. A cultura que a gente criou e aprendeu aqui é muito relevante para tudo que nos tornamos e vamos nos tornar. O RS pode ser uma plataforma para criarmos inovação. Fizemos investimentos nas duas plantas do Estado. Temos uma planta muito relevante para o mercado automobilístico em Charqueadas. É onde a gente tem mais tecnologia embarcada, componentes importantes de veículos são produzidos com os tipos de aço fabricados nessa planta. É fundamental para nossos planos de servir a indústria automobilística brasileira que está se reinventando, está se eletrificando. A parceria que temos com a Randon na Gerdau Next mostra que temos outros investimentos, além do aço. Temos possibilidade de realizar, no futuro, projetos de energias renováveis.

GUSTAVO WERNECK CEO da Gerdau

MARTA SFREDO

Nenhum comentário: