quarta-feira, 21 de dezembro de 2022


21 DE DEZEMBRO DE 2022
MÁRIO CORSO

Dominado pelo medo

A família se dá conta da agitação do pai, um senhor já de idade. Ele precisava fazer, urgente, uma transferência após ler uma mensagem no celular. O filho conseguiu pará-lo. Explicou que a mensagem era um golpe. Não era uma mensagem do banco. Não existia essa dívida, que, se não paga, geraria uma multa altíssima. Porém, o pai seguia convencido do problema. O filho o levou ao banco. O senhor só se acalmou quando ouviu do seu gerente que não havia dívida alguma.

O gerente foi muito didático. Perguntou ao cliente se ele sentira medo ao ler a mensagem. O senhor disse que sim. Então o gerente lhe deu um sábio conselho: "Toda vez que o senhor ficar com medo ao ler uma mensagem, é golpe".

Quando você se pergunta como as pessoas fazem coisas não razoáveis a pedido de terceiros, a resposta é o medo. Boa parte dos golpes funciona desta forma: alguém diz algo assustador e pede à vítima dinheiro. Só depois que tudo passa, a vítima percebe o nonsense da ameaça. Quando alguém está com medo, deixa de usar a parte superior do cérebro. O funcionamento cognitivo fica rebaixado à modalidade ataque ou fuga, que o medo gera.

Podemos levar esse mecanismo para as notícias falsas. Uma observação, se elas fossem chamadas de "pega-trouxa", seria o primeiro passo para combatê-las. Funciona assim: alguém lê ou escuta algo absurdo, que o enche de pavor. Se ele acreditar da primeira vez, o medo que sentiu ficará aderido ao assunto e será ativado quando esse tópico voltar.

Essa é a razão porque pessoas inteligentes acreditam em bobagens e ficam impermeáveis à realidade. Depois que esse mecanismo do medo instala-se, deixa a porta aberta para outras asneiras que sejam da mesma gramática. A vítima para de pensar, ela dá respostas emotivas ao ser questionada sobre sua crença fajuta.

No sábado, brinquei com um motorista do Uber se ele iria de medialuna ou de croissant na final da Copa. A Argentina foi o gatilho para uma longa explicação geopolítica sobre o perigo que corremos. Ele estava convicto de que, já que a Argentina teria uma dívida enorme conosco envolvendo combustível, e que ela não poderia pagar, então a saída seria a guerra.

A política do medo e as guerras andam juntas. Sempre um grande inimigo é convocado. Portanto, caros leitores, fomos avisados, preparem-se. A Argentina - ainda mais agora, aproveitando a euforia pós-Copa - vai nos invadir militarmente.

MÁRIO CORSO

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