29 DE DEZEMBRO DE 2022
CAPA
Diversão em turma longe das telas
Empreendimentos que oferecem jogos de tabuleiro apostam no crescimento do interesse por essa forma de entretenimento
Enquanto o Centro Histórico de Porto Alegre vai se esvaziando com a chegada da noite, um prédio comercial na Rua Riachuelo começa a receber visitantes sedentos por uma noitada de diversão com os amigos. Mas ali não se esconde uma balada ou algo assim. O edifício abriga, em uma de suas salas, o HEX, um bar que oferece para os seus frequentadores uma infinidade de jogos de tabuleiro - os board games. Debruçados sobre as mesas, os habitués passam horas travando guerras, descobrindo assassinos, viajando para outros mundos e criando impérios. Tudo isso, é claro, regado com risadas, pizza e cerveja.
A procura pelos board games experimentou um crescimento sem precedentes durante a pandemia de covid-19. O isolamento social fez com que as pessoas procurassem novas maneiras de se entreter em suas casas e, com uma demanda maior, o mercado precisou abastecer este público, entregando mais opções. Dados do Board Game Geek, maior site especializado em jogos de tabuleiro do mundo, mostram que em 2019 foram lançados 4.677 jogos globalmente. E, nos anos seguintes, os títulos lançados passaram de 5 mil.
Deste montante, o Brasil recebeu apenas 720, de acordo com dados da Ludopedia, considerada a maior plataforma nacional de jogos de tabuleiro. Essa quantidade reduzida vai na contramão do desejo da maioria dos consumidores no país, com 74% deles afirmando que é importante o lançamento em português - por um melhor entendimento das regras e uma experiência mais aprofundada. O valor de produção dos jogos também subiu, com o preço do papel e do frete registrando picos. Por isso, as luderias, como são chamadas as casas de jogos de tabuleiro, vão se tornando uma opção interessante.
Em lugares como o HEX, o visitante paga uma entrada de R$ 10 e pode jogar quantos jogos quiser durante o tempo em que o espaço estiver aberto. Caso o jogador queira uma madrugada de imersão, é possível adentrar, uma vez por mês, o corujão, que tem uma taxa de R$ 50, com direito a pizza e café. Proprietário do estabelecimento, Arthur Vargas, 31 anos, viu que o mercado estava promissor durante a pandemia e, em outubro de 2021, decidiu apostar as suas fichas em seu próprio negócio: alugou uma sala e levou a sua coleção de cerca de 300 títulos para o público porto-alegrense, que estava carente desse tipo de entretenimento.
- Essa procura crescente pelo espaço físico acho que se deve ao pessoal querendo sair um pouco do digital e vir para o analógico, porque você consegue juntar as pessoas em uma mesa. O pessoal está valorizando mais isso, depois de ter que se afastar na pandemia - explica Vargas.
Gênero
Nascida como uma loja virtual, em 2019, a Távola Games cresceu no digital na época da pandemia e precisou de um espaço físico para coroar a sua expansão, providenciado por sua proprietária Márcia Galli, 41 anos, em abril deste ano. Agora, além da venda de jogos, é possível que o público se reúna para uma noite de diversão na Av. Protásio Alves, em Porto Alegre.
De acordo com o Censo 2020 da Ludopedia, o público feminino interessado em board games vem crescendo ano a ano, representando, no último levantamento, 39% dos jogadores brasileiros. Mesmo assim, a maioria ainda é formada por homens.
- Sempre achei que era um mundo muito masculino, mas não é - avalia Márcia. - Vejo que dentro do meio os jogadores me enxergam como um ser humano, não existe mais homem e mulher. Nunca senti nenhum tipo de olhar diferente ou me senti mal. Foi-se o tempo em que se dizia, espantado: "Nossa, olha ali uma mulher jogando". Todo mundo senta e joga junto, se diverte.
CARLOS REDEL
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