Natal com João Carlos Martins
Maestro rege concerto temático amanhã, no Auditório Araújo Vianna, recebendo como convidado o tenor Jean William
A antevéspera do Natal terá um presente especial para os porto- alegrenses: um concerto temático com o maestro João Carlos Martins e sua orquestra no Auditório Araújo Vianna. Livre para todos os públicos, A Magia do Natal ocorre amanhã, a partir das 20h.
O veterano maestro destaca que o público pode esperar uma combinação musical que vai transportar os espectadores para dentro do clima de Natal, proporcionando um final de ano com cultura e magia - esta que sai dos instrumentos e entra nos ouvidos dos presentes.
Criado especialmente para esta ocasião, o concerto foi elaborado a partir de uma viagem do maestro pelas eras da música. Ele foi buscar o canto gregoriano; peças de Natal montadas na Renascença; inseriu o barroco, com J.S. Bach; ainda tem o romantismo, com O Quebra-Nozes, de Tchaikovsky; e, para completar, músicas natalinas populares, como Noite Feliz, de Franz Gruber, e Jingle Bell Rock, de Bobby Helms.
- A criação deste espetáculo natalino nasceu deste velho maestro, misturando música clássica e canções de Natal conhecidas por todos. Este repertório vai mostrar o espírito de solidariedade, a paz e o amor. A música e o Natal se complementam porque, como eu sempre digo, a música explica que Deus existe - destaca Martins.
Para a apresentação, o maestro terá um convidado especial: o tenor Jean William. A dupla se conheceu há 10 anos, quando ambos foram apresentados pela jornalista Mônica Bergamo. Naquele momento, Martins percebeu que o cantor era "um diamante a ser lapidado imediatamente".
- Ele morava em uma pequena cidade, Barrinha, perto de Ribeirão Preto. Chegou para fazer audição na sexta-feira. Era um menino franzino e, quando eu ouvi a voz do Jean, eu falei: "O que você vai fazer amanhã?". Ele falou: "Vou cantar em um casamento em Ribeirão Preto". E eu falei: "Não, amanhã você vai fazer a estreia com a Bachiana Filarmônica Sesi de São Paulo" - lembra o maestro.
Martins acrescenta que, em Barrinha, Jean William agora tem um teatro com seu nome, já cantou três vezes em Nova York, ao lado do maestro, bem como em vários países da Europa. Também já marcou presença nas principais casas de espetáculo do mundo e se apresentou para o Papa Francisco e para o príncipe de Mônaco, Albert II. Uma vida transformada pela música.
Reinvenção
Ao lado de William e de sua orquestra, o maestro segue com a sua missão de levar para todos os cantos do mundo a música clássica, a qual ele acredita que seguirá para a eternidade. Isso pode ser visto, segundo ele, na popularização do gênero, uma vez que antes os concertos eram frequentados por um público mais elitizado e hoje se tornaram mais populares.
- Quando você ouve um tema escrito há 350 anos e hoje continua mais vivo do que nunca, é porque a música clássica veio para ficar. Apesar de eu ter o maior respeito pela música popular, tenha certeza que, se tiverem outros planetas habitados, e nós soubermos disso no futuro, certamente a música clássica estará presente em outros planetas também - afirma Martins.
O concerto natalino encerrará a temporada de 2022 do Araújo Vianna e a do maestro, que teve um ano cheio de momentos marcantes, sendo o principal deles uma apresentação no Carnegie Hall, em Nova York, no mês passado. Ele celebrou os 60 anos de sua estreia na célebre casa de espetáculos, regendo a Novus NY e tocando piano ao final.
- Eu tinha 21 anos na minha estreia no Carnegie Hall. Depois, toquei várias vezes lá. A emoção é sempre a mesma e a procura pelo perfeccionismo também. Sempre tive um carinho enorme e uma receptividade fantástica lá. Nesse concerto, foi uma loucura a receptividade do público, assim como há 60 anos - aponta o maestro.
Martins ainda destaca que, no concerto, foi necessário se reinventar para driblar a distonia focal nas mãos, doença rara com a qual convive desde os 18 anos. De acordo com o maestro, foram várias batalhas vencidas e algumas guerras perdidas, mas ele nunca desistiu, mesmo depois de ouvir que não poderia mais tocar profissionalmente. Hoje, usa luvas biônicas, que permitem que possa encostar os dedos no teclado, o que, para ele, é "praticamente um sonho".
Toda essa batalha fez com que o artista eliminasse de seus pensamentos a possibilidade de parar de tocar. Assim, Martins, aos 82 anos, tem muitos projetos, incluindo uma volta ao Carnegie Hall em 2024 para uma apresentação sobre a Amazônia. O que não está nos planos é a aposentadoria:
- Não posso pensar em uma palavra que eu não conheço. No meu dicionário, acabei de olhar novamente a letra A e não encontrei essa palavra.
CARLOS REDEL
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