Abuela La La La
"Se minha sobrinha estivesse em casa, talvez a gente se abraçasse e eu voltasse a sentar no sofá. Mas estava sozinha, então peguei minha bandeira e saí".
Foi assim que Maria Cristina Mariscotti, 76 anos, explicou porque virou um dos símbolos da Copa dos argentinos. Ela, a Abuela La La La. Avó em espanhol, avó de toda a Argentina.
O mundo inteiro viu a senhora de cabelos brancos e máscara pulando na esquina de casa entre alguns rapazes, àquela altura não muitos, depois da vitória contra a Polônia, ainda na fase de grupos. No jogo seguinte, contra a Austrália, o número de torcedores na esquina festejando com a Abuela já era maior, até explodir nas comemorações do tri, no domingo passado.
Abuela La La La.
Maria Cristina, que nem avó é, acabou arrumando milhões de netos pelo país. Consta que argentinos de La Quiaca a El Calafate esperavam a Abuela festejar ao final dos jogos como uma espécie de prenúncio das vitórias que viriam.
E vieram.
A Abuela venceu até mesmo uma suposta maldição que pairava sobre os hermanos. Conta-se que, em 1986, o então treinador da seleção deles, Carlos Bilardo, prometeu à Virgem de Tilcara que todo o elenco voltaria ao México em peregrinação com o troféu, caso fossem campeões. A Argentina ganhou a Copa, os jogadores não voltaram para pagar a promessa e a Virgem, ao que tudo indica, cobrou o preço. Foram 36 anos de seca até o fim da urucubaca com o pênalti de Montiel.
Juntar uma santa com urucubaca é mais que ecumenismo, é uma tradução de fé.
A Abuela chegou a passar mal no dia seguinte à conquista. Enquanto Messi y sus niños comemoravam feito loucos, e os borrachos tomavam as ruas da Argentina, a pressão da abuelita foi nas alturas, quase nos índices da felicidade dela. Só por isso Maria Cristina não foi vista agitando a bandeira no alto de um semáforo, como alguns de seus compatriotas. Ficou quietinha para esperar a festa marcada para continuar na terça, com a chegada da seleção e da taça ao Obelisco.
Por aqui, torço para que a Abuela La La La seja convocada a desfilar no caminhão com os jogadores - sem esquecer do remedinho embaixo da língua, para garantir. E desde já me candidato a ser a Vovó Ó Ó Ó da próxima Copa, caso o Brasil faça o favor de nos dar a alegria que a Argentina deu a seus torcedores.
Ao apagar das luzes, mais dois lançamentos para presente. Jorge Furtado, especialista em cinema e em Shakespeare, misturou ficção e história em As Aventuras de Lucas Camacho Fernandez, o primeiro tradutor do bardo para o português. Da Companhia das Letras. Ana Fonseca e Mauren Veras apresentam Direitos de Toda Leitora, em que conversam com as meninas sobre diversidade e representatividade. Da Libretos.
O Natal mais feliz do mundo, nesse 2022 que vai chegando ao fim, é o da Argentina. Que o nosso, embora sem taça, seja cheio de esperança em dias melhores para o país inteiro. Feliz Natal.
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