quinta-feira, 30 de abril de 2020



30 DE ABRIL DE 2020

OPINIÃO DA RBS

SAÍDA DE GUEDES SERIA MAIS UM ERRO AGORA

Em meio à profusão de atitudes questionáveis e declarações despropositadas, fez bem o presidente Jair Bolsonaro ao voltar a empoderar publicamente o ministro da Economia, Paulo Guedes, como o homem forte na condução de assuntos relacionadas à área no país. O gesto do presidente da República foi uma tentativa de acabar com os rumores de uma possível saída de Guedes do governo ou ao menos de perda de poder para a ala militar do Planalto. As desconfianças quanto ao destino do ministro se avolumaram especialmente após a apresentação, na semana passada, do esboço do plano batizado de Pró-Brasil, com a previsão de execução de obras com dinheiro público, uma ideia que colide com os ideais liberais da equipe econômica e esbarra na penúria dos cofres da União.

Será preciso ver para crer, no entanto, se Guedes vai de fato reassumir as rédeas sem ser atropelado, dado o zigue-zague comportamental de Bolsonaro. Tudo o que o Brasil e o próprio governo não precisam, neste momento, é de mais uma crise, após a saída dos ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da Justiça, Sergio Moro. Em tempos normais, a simples menção de que Paulo Guedes poderia estar abandonando o barco pela perda de voz e prestígio já seria um enorme abalo para os agentes econômicos. Significaria uma perda ainda maior de credibilidade da atual gestão e o fim definitivo das ilusões de um governo Bolsonaro com norte liberal.

O ministro, vale lembrar, foi companheiro de primeira hora de Bolsonaro na campanha e, sem dúvida, é o esteio que leva empresários e investidores a ainda confiarem que o Planalto não se jogará na gastança irresponsável. Uma possível saída de Guedes em meio à pandemia do novo coronavírus certamente seria interpretada como ameaça iminente de a situação sair do controle, sepultando de vez a credibilidade interna e externa do governo na condução macroeconômica, agravando um quadro que já é dramático. Ao mesmo tempo, uma eventual substituição da elogiada equipe econômica aceleraria o esfarelamento do que resta de funcionalidade no Planalto, mergulhado em ataques e confrontos de todos os lados.

A força de Guedes não vem apenas de seu nome, frequentemente associado a polêmicas e declarações desastradas, mas sim do que ele representa: o compromisso com a responsabilidade fiscal e projetos reformistas. A questão, é preciso ressaltar outra vez, é o valor relativo das promessas de Bolsonaro. Será preciso conferir, por exemplo, se o presidente, receoso de contrariar interesses como os do funcionalismo público - como mostrou a hesitação com a reforma administrativa -, apoiará os esforços mencionados por Guedes para que as corporações se deem conta do tamanho da crise e da necessidade de sua cota de colaboração, aceitando o congelamento temporário dos salários. Palavras ajudam, neste momento de intensa instabilidade, mas não bastam. Bolsonaro terá de provar no dia a dia e na prática que Guedes voltou a ser o posto onde são obtidas todas as respostas.

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