quinta-feira, 30 de abril de 2020



30 DE ABRIL DE 2020
CRISE EM BRASÍLIA

Após "e daí?", críticas a governadores e prefeitos

Um dia depois de reagir com um "e daí?" ao número de mais de 5 mil mortos pelo coronavírus no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro reuniu 25 deputados do PSL e, em uma tumultuada entrevista na porta do Palácio da Alvorada, ontem, atribuiu a governadores e a prefeitos a responsabilidade pelo aumento da crise no país.

Bolsonaro reuniu os parlamentares para um café da manhã. Ao sair do Alvorada, levou junto parte dos deputados e passou, com ajuda deles, a criticar as notícias que relataram sua entrevista na noite anterior.

Na terça-feira à noite, questionado sobre as 5.017 mortes registradas pelo Ministério da Saúde, o chefe do Executivo reagiu dizendo:

- E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre. Ontem, culpou chefes de Estados e municípios:

- As medidas restritivas são a cargo dos governadores e prefeitos. A imprensa tem de perguntar para o (João) Doria por que tem mais gente perdendo a vida em São Paulo. Perguntar para ele que tomou todas as medidas restritivas que ele achava que devia tomar - disse Bolsonaro.

- Não adianta a imprensa querer botar na minha conta estas questões que não cabem a mim. Não adianta a Folha de S.Paulo, O Globo, que fez manchete mentirosa, tendenciosa - continuou Bolsonaro. 

Indagado pelos jornalistas se não havia dito a frase do "e daí?", Bolsonaro demonstrou impaciência.

- Você não botou o complemento! Você não botou o complemento! - reagiu.

Os jornalistas perguntaram qual seria o complemento.

- A Globo não tem moral. Vocês não têm moral. Você é um mentiroso, a Globo é mentirosa - afirmou o presidente.

Os repórteres insistiram na pergunta.

- O complemento é que eu lamento. Está lá. Falei aqui. Perguntei, tinha pelo menos duas TVs ao vivo. A Globo tem que se definir. Eu não vou pagar para vocês falarem a verdade nem bem de mim. Não vou pagar para a Globo escrever a verdade ou falar bem de mim. Perguntem para o Doria a questão de óbitos que estão acontecendo - disse Bolsonaro.

Na entrevista de terça à noite, Bolsonaro disse que "as mortes de hoje, a princípio, essas pessoas foram infectadas há duas semanas". Depois de questionar e ser informado de que sua entrevista estava sendo transmitida ao vivo em redes de televisão, Bolsonaro buscou dar declaração mais amena sobre o assunto.

- Lamento a situação que atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente que a gente quer, se um dia morrer, ter uma morte digna, né? E deixar uma boa história para trás - disse o presidente.

Doria

Ainda ontem, no pronunciamento, apoiadores do presidente xingaram repórteres. Ao fim, Bolsonaro voltou a ser questionado sobre o número de mortes e, novamente, passou a responsabilidade para os governadores e prefeitos.

- Perguntem ao senhor João Doria, ao senhor (Bruno) Covas (prefeito de São Paulo), de o porquê terem tomado medidas tão restritivas e continua morrendo gente. Eles têm que responder. Vocês não vão colocar no meu colo essa conta - disse.

Indagado sobre qual seria a sua responsabilidade, rebateu:

- A pergunta é tão idiota que eu não vou te responder - afirmou o presidente.

No início da tarde, Doria se manifestou, em São Paulo. Em resposta à declaração do presidente, ele convidou Bolsonaro para ir ver pessoas agonizando nos hospitais:

- Saia da sua redoma de Brasília e venha visitar comigo o Hospital das Clínicas, os hospitais do M?Boi Mirim, os hospitais de campanha, e venha ver a "gripezinha" e o "resfriadinho". Venha ver as pessoas agonizando nos leitos e a preocupação dos profissionais de saúde com as pessoas que podem vir a óbito.

Ele ainda pediu que Bolsonaro respeite as pessoas:

- Respeite os médicos, os enfermeiros e os profissionais de saúde, que, ao contrário do senhor, que vai treinar tiro, estão trabalhando para salvar vidas.

Na terça-feira, antes de cumprir expediente, Bolsonaro treinou tiros em Brasília.

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