sábado, 25 de abril de 2020



25 DE ABRIL DE 2020

MONJA COEN



MOSTEIRO ZEN


Isolamento social pode ser uma ação voluntária ou pode ser uma obrigação desagradável. Você escolhe! Durante 12 anos, morei no Japão. Oito anos em um mosteiro zen feminino, na cidade de Nagoya. O mosteiro está localizado em uma ladeira estreita, onde mal cabem dois carros simultaneamente. Há casas e edifícios residenciais. Há três templos budistas. O terceiro é o mosteiro.

Residi cinco anos em sistema de internato e três em semi-internato. Durante o semi, só ia ao mosteiro para retiros e atividades específicas. O resto do tempo morava em um templo nas proximidades do Monte Fuji. Lá era eu e eu mesma. Eu e eu mesma era toda a vida da Terra: pássaros, rochas, árvores, frutos e flores, animais silvestres, cobras, sapos, lagartos, ratos e a imensidão do céu.

O silêncio! Trabalhava muito em faxinas e cortando, podando árvores, orando e meditando. Estudava, lia textos sagrados e escrevia minhas teses finais do mestrado.

Sentava-me em Zen, meditação silenciosa, muitas vezes ao dia. Antes e depois de estudar, além dos períodos regulares de um mosteiro zen: O primeiro, antes do amanhecer. O segundo, antes de almoçar. O terceiro, antes do jantar.

O quarto e o quinto períodos, antes de dormir. Quando conseguimos viver dessa maneira, tudo se torna claro e se encaixa de forma tão precisa, que fluímos com o fluir da vida. Seguir o curso da natureza é uma das maneiras mais saudáveis de viver. Relacionamentos humanos são difíceis de serem mantidos em harmonia e respeito. Ficamos ofendidas, tristes, magoadas, bravas, impacientes, intolerantes.

Estou há cinco semanas no templo em São Paulo. Faz-me lembrar o mosteiro e também o templo da montanha, pelo silêncio e pelas práticas de zazen. Uma casa comum, com um jardim na frente e outro atrás. Oro todas as manhãs para que as drogas certas sejam descobertas e haja cura e recuperação. Agradeço à vida e a cada instante de vida.

Fique em casa e faça de sua casa um local sagrado. Não que isso tornará os relacionamentos mais fáceis, mas você poderá se tornar mais consciente de si mesma. Como fala? Como anda? Como pensa? Está sendo acolhedora, sábia, gentil e compassiva com todos? Ou há alguns que você privilegia e outros não?

Perceba como podemos nos tornar intolerantes com o mundo, a vida, personagens da política, até mesmo com pessoas próximas e queridas.

De repente, pare e faça nada. Olhe para o céu. Ouça os pássaros, respire consciente e profundamente, sem pressa. Saboreie o ar que entra e sai. Deixe de lado as preocupações. Esteja presente no agora. Sem apegos e sem aversões, o Caminho é livre.

Fique em casa e evite contaminar ou ser contaminada. O sistema de saúde agradece - médicas e médicos, enfermeiras e enfermeiros, fisioterapeutas, o pessoal da administração, da faxina, da alimentação, do transporte... Vamos participar oferecendo o que temos: a quietude, o ficar em casa, o lavar as mãos e uma ternura por todos os seres.

Quando chegar a hora de voltarmos às ruas, ao trabalho, às aulas, lembre-se dos cuidados necessários. Sem beijos e sem abraços, como budas e bodisatvas, seres sagrados, vamos nos cumprimentar com as mãos unidas, palma com palma e reverenciar quem encontrarmos, à distância, todos usando máscaras. Mãos em prece

MONJA COEN

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