terça-feira, 7 de abril de 2020



07 DE ABRIL DE 2020
DAVID COIMBRA

O pior tipo de chefe

O que é que nós estamos esperando? É isso que quero que digam. O que, afinal, estamos esperando?

Nós estamos presos em casa, escondidos do vírus. Tudo bem, aceito, todos aceitamos, o isolamento é a primeira medida tomada desde a Antiguidade quando estoura alguma doença contagiosa. Mas nós já passamos da Antiguidade e da Idade Média, estamos, supostamente, na era do conhecimento, da informação instantânea e caudalosa, da comunicação global. Então, precisamos saber qual é o plano.

Existe um plano?

Segundo o raciocínio que é repetido à exaustão desde o início da pandemia, a ideia do confinamento é dar tempo para robustecer o sistema de saúde. Se for assim, é necessário que as autoridades informem qual é o sistema de saúde ideal. Ou seja: quantos médicos e enfermeiros, quantos leitos, quantos respiradores, quantas máscaras, quantos recursos têm de ser levantados para que o ideal se torne realidade. Temos de saber qual é essa meta, a fim de planejarmos o seu atingimento.

Ou estamos apenas torcendo para que o vírus desista de nos incomodar e, vendo que não tem ninguém na rua, vá embora, frustrado? Se for isso, é perda de tempo. As autoridades de saúde não cessam de repetir que todos teremos contato com o vírus, mais cedo ou mais tarde. O isolamento serve só para adiar esse encontro. Para ganhar tempo, como já disse. Assim, o fundamental é saber: quanto tempo?

Entenda: há muitas pessoas importantes para mim que pertencem ao grupo de risco. Eu mesmo pertenço ao grupo de risco. Logo, não estou desdenhando da ameaça, não estou dizendo que a covid-19 é uma gripezinha e que estamos todos seguros porque somos brasileiros, abençoados por Deus. O que estou dizendo é que a população tem o direito de saber, em termos concretos e claros, qual é o objetivo das autoridades. Porque não podemos ficar indefinidamente nesse estado de suspensão. E não se trata de uma disputa entre a saúde e a economia. A economia depende da saúde e a saúde depende da economia, tudo está interligado e, ao fim e ao cabo, é uma coisa só.

Então, repito: gostaria de saber o que temos de fazer para resolver essa situação.

Essa resposta quem tem de dar é o líder. É essa, mais do que todas as outras, a função do líder: apontar uma direção. Já tive vários tipos de chefes: autoritários, paternalistas, carismáticos, anódinos, amorosos, lenientes. Todos os tipos. O pior, dentre eles, é o que não sabe o caminho a seguir, o instável, o imprevisível. Esse chefe não consegue cumprir a principal tarefa da liderança, que é realizar a unidade das vontades. O verdadeiro líder não é o que manda, é o que diz o que tem de ser feito para que o objetivo comum seja alcançado.

Bem ali na Praça da Alfândega está plantada a estátua do general Osório. Ele surge montado em seu cavalo, imponente, fitando o porvir. E na pedra que sustenta a escultura foi impressa uma frase do general: "É fácil a missão de comandar homens livres: bastar mostrar-lhes o caminho do dever". É antigo, é simples, é verdadeiro, mas poucos conseguem fazer.

DAVID COIMBRA

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