terça-feira, 7 de abril de 2020


07 DE ABRIL DE 2020
ARTIGOS

O TEMPO NO BUTÃOE A QUARENTENA


Vivi em 2019 uma situação de introspecção profunda que pode ser comparada, em alguns aspectos, à quarentena que vivemos atualmente. Por cinco meses, fui morador do Butão, país erroneamente conhecido por ser o mais feliz do mundo. Como eu já estudava felicidade e bem-estar há alguns anos quando decidi morar lá, sabia que o Butão não era o país mais feliz do mundo, apesar de intrigante para mim.

Intrigante, pois é um país extremamente fechado e muito difícil de ser verdadeiramente experienciado como turista. Entretanto, era essa a experiência que eu almejava, para entender por que o Butão, um país pobre, é visto pela ONU como referência em políticas públicas. Além disso, um país onde a FIB (Felicidade Interna Bruta) é mais valorizada do que o PIB e o primeiro a virar democracia sem pressão popular ou guerra é um país que merece um estudo profundo.

Nesse período, morei com os Butaneses nos dormitórios da universidade, tinha a liberdade que nenhum outro turista tinha. Lá, o banho era de balde, banheiro só acocorado e a cozinha não tinha fogão nem geladeira, uma vida bem simples. Embora estivesse estudando na universidade - oportunidade única, em que me tornei o primeiro brasileiro a cursar faculdade no país - eu tinha pouco tempo em sala de aula, tinha apenas meus mentores e muito tempo para pesquisar e entrevistar pessoas. 

Além disso, a alimentação era bem difícil, o tédio era frequente, ninguém me pressionava, eu criava minha rotina. Era uma quarentena, com muito tempo para refletir, muito tempo sozinho. Li, escrevi e estudei muito, mas por muito tempo não fiz nada, só caminhava sozinho e olhava para as minhas sombras. O caderno e a caneta foram meus terapeutas. 

Para o papel iam meus medos mais bizarros, qualquer coisa que passasse na minha cabeça, sem julgamentos. A partir daí eu lia o que tinha escrito, refletia, racionalizava e buscava entender o que fazia sentido, o que aqueles sentimentos queriam me ensinar e de quais deles eu podia me desfazer. Aqueles cinco meses no Butão não foram os momentos mais felizes da minha vida, mas foram quando eu mais fortaleci minha felicidade, quando eu mais me conheci. Que possamos usar o tempo da quarentena para nos conhecermos melhor e que saiamos mais fortes e felizes.

Terapeuta, consultor e palestrante com foco em bem-estar e felicidade | contato@diegoburger.com - DIEGO BURGER ARAUJO SANTOS

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