06 DE ABRIL DE 2020
CLAUDIA LAITANO
Uma mão lava a outra
Para quem está saudável, financeiramente estável e sem pessoas frágeis ou doentes para se ocupar no dia a dia, as aflições da quarentena vão e vêm como ondas de um oceano de humor imprevisível. Um dia, está tudo tão calmo que quase esquecemos que estamos trancados em casa há quase três semanas. No outro, somos derrubados pelo medo, pela insegurança, pelas fantasias macabras. Nenhum resguardo ou fortaleza doméstica improvisada são capazes de nos proteger da nossa própria imaginação.
Esta semana, uma onda de tamanho médio, imprevista, me apanhou distraída em uma agência dos Correios. Em meio a tantas notícias mais graves, me escapou o fato de que o envio de encomendas internacionais foi suspenso por tempo indeterminado. O pacote que eu havia preparado com carinho para enviar para a pequena cidade de Minot, North Dakota, nos confins do meio-oeste americano, voltou intacto para casa. Mesmo não sendo nada muito urgente ou importante, a sensação era de que eu havia ficado ainda mais longe da filha que estou impedida de visitar porque as viagens também foram canceladas.
Pais separados dos filhos por um oceano e uma pandemia são pessoas em constante estado de sobressalto e com muitos números e estatísticas médicas na cabeça, mas não posso reclamar. Minha filha saiu de Nova York assim que a universidade cancelou as aulas, na segunda semana de março. Em North Dakota, que tem menos de 1% do número casos de covid-19 registrados em Nova York, foi acolhida pela generosidade da família de uma amiga, que vai hospedá-la pelo tempo que for necessário.
Assim como essa gentil família americana, que não hesitou em receber em casa uma estudante brasileira que precisava sair de Nova York, milhões de outras pessoas ao redor do mundo estão inventando maneiras de amenizar aflições alheias impostas pela pandemia. Os problemas são de todos os tipos e se espalham por todos os lados. Falta sabão, falta comida, falta emprego, falta leito, falta máscara, falta inclusive liderança (e como). O que não pode faltar, neste momento, é disposição para olhar para fora da própria fortaleza (nem que seja pela janela) para descobrir alguma forma de ajudar. E logo.
CLÁUDIA LAITANO
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