02 DE ABRIL DE 2020
ARTIGOS
ISOLAMENTO SOCIAL E CONSUMO ABUSIVO DE ÁLCOOL E DROGAS
O isolamento gerado pela pandemia de coronavírus vai obrigar a uma mudança radical nos hábitos de toda a população mundial - desde o uso discreto e controlado de álcool em uma refeição em família até o uso abusivo ou dependente de álcool e drogas. Face à necessidade de isolamento progressivo no domicílio durante muitas semanas, é provável que encontremos dois cenários distintos: o primeiro, mais saudável, em que indivíduos com problemas pelo uso de substâncias tenham a oportunidade de reduzir drasticamente seu consumo, em função das dificuldades logísticas de obtenção destas, além da redução geral das suas condições financeiras.
Este seria um uso positivo da situação de confinamento, em benefício do problema individual. O segundo - mais dramático, seria o de uma percepção de "fim dos tempos", que pode gerar uma atitude progressiva de anestesia perante a realidade dura que enfrentaremos, levando a um estado constante de intoxicação, justificado por pensamentos do tipo "Titanic": uma vez que todos iremos morrer, então por que não entrar em um estado de torpor?
Não iremos todos morrer. Apesar de os dados mundiais descreverem uma situação nova e dramática para todos nós - em especial os menos favorecidos social, econômica e mentalmente, há margens significativas para ações, que vão desde as medidas de imposição de afastamento social até a mais importante das ferramentas disponíveis na humanidade - a solidariedade e a devolução social. Os grupos de autoajuda, como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos já conhecem essa ferramenta poderosa desde a década de 1930 e a utilizam de forma eficaz.
É chegado o momento de estarmos disponíveis para as pessoas com maior dificuldade. Lembre que a solidão é um dos principais gatilhos para o consumo abusivo de substâncias, levando a conse- quências desesperadoras, e que podem ser diminuídas por palavras de conforto. Existem estruturas sendo montadas por equipes de psiquiatras e psicólogos para o auxílio remoto às pessoas com maior necessidade. Mas - em paralelo com o auxílio profissional - existe a força do auxílio que qualquer um de nós pode oferecer. Busque engajamento no nível que considere apropriado para sua segurança pessoal e saúde mental, mas faça a sua parte. A humanidade só tem a agradecer pelo seu gesto.
Psiquiatra, chefe do Serviço de Psiquiatria de Adição do HCPA flaviopechansky@gmail.com
FLAVIO PECHANSKY
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