04 DE JANEIRO DE 2020
ESPIRITUALIDADE
ANO BUDA 2586, ANO CRISTO 2020
Rituais de passagem. Há uma passagem? Ou inúmeras passagens?
Medite. Zazen é o portal principal. Avance. Sente-se. Levante-se. Deite-se. Caminhe. Coma. Liberte-se do extra, do desnecessário. Conheça a suficiência pessoal e social. Seja você, assim como é, em transformação. Extraordinária e simples, complexa e rara joia: pessoa da família humana, digna e sábia. Acorde, desperte. Aprecie sempre sua vida. No ontem, no amanhã, no agora. Ciclo incessante de estações, de emoções. Vidamortevidamortevida vivida, morrida, chegada, partida, sem ir nem vir, sem nascer, sem morrer. Intersendo. Ah! Santo Lavoisier: "Nada se cria, nada se destrói, tudo se transforma"- pensamento iluminado, mente Buda.
Nos países do Hemisfério Norte, ao final do inverno - quando já não há mais grandes nevadas, que levam à falta de flores, frutos, verduras frescas -, todos celebram o Novo Ano. Da árvore seca, de galhos e tronco retorcido, ainda coberta de neve, quando o som é o silêncio dos pássaros e dos insetos, surge uma pequenina flor branca e perfumada. Desabrocha a primavera. Novo ciclo da vida. Surgem uma, duas, três, cinco pétalas brancas. Pássaros e insetos. A neve derrete - cores e sons voltam à vida, a temperatura sobe.
O outono acontece quando a luz no céu é azul mais que azul perfeito e a lua branca mais branca. Frutas, verduras e já começam a se organizar para frio gentil que inverna a Terra. Dias curtos, noites longas. O bambuzal se dobra com o peso da neve, mas não se quebra.
De repente, na árvore torta, de galhos retorcidos (estaria morta?), surge uma pequena protuberância branca e perfumada. Primavera.
As estações do ano se sucedem e vamos nos transformando juntos a tudo o que existe. Alguns querem apenas as estações intermediárias, com abundância de flores e frutos. Mas sem o frio cortante e o calor escaldante, a vida na Terra não aconteceria.
Assim, quando fazemos o ritual - que foi criado no Hemisfério Norte - aqui no Sul, temos de lembrar suas origens e adaptar à nossa realidade. Pinheiros sem neve. Ameixeiras sem flor. Bambus retos e fortes. Sol e pássaros. Sorvetes e frutas frescas naturais. Banho de mar, roupas leves. Mas, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, invocamos nos primeiros dias do ano a Sabedoria de Buda.
Xaquiamuni Buda era da Índia, Hemisfério Sul. Usava trajes simples e leves. Moreno. Nobre - não apenas por sua casta familiar, mas por acolher todas as pessoas em sua comunidade. Sem preconceitos nem rancores. Por analogias e parábolas, era capaz de transmitir o Darma - a Lei Verdadeira - e com isso libertava todos os seres das amarras da dor e do sofrimento.
Discípulos e discípulas se multiplicaram - criou-se a Sanga, a comunidade de monges e monjas, leigos e leigas. Continuamos praticando seus ensinamentos. Mantemos o ritual sagrado de Dai Hannya - invocar a Grande Sabedoria Perfeita, capaz de afastar os males. Sabedoria que clarifica em profundidade que somos um só povo e uma só vida. Sabedoria plena de compaixão que dialoga e não luta, acolhe e transmuta.
Que o Ano-Novo abra um novo ciclo de amor e ternura. Que todos possam despertar para a mente Bodai - mente iluminada - e cuidar, criar causas e condições sustentáveis para o bem de todos os seres.
Que cessem as condições adversas, que todo pensamento perverso se converta logo em pensamento de bem, que toda fala áspera e rude se torne gentil e educadora, que nunca desistamos de nosso anseio comum de vida plena e que para cada desapontamento surja um novo apontamento sagrado.
Que possamos todos ir adiante, em movimento circular ascendente e nos maravilhemos ao perceber que já estamos vivendo na Pura Terra Sagrada, compartilhando e cantando a vida eterna de Buda.
Mãos em prece
ESPIRITUALIDADE
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