03 DE AGOSTO DE 2019
FLÁVIO TAVARES
OS SÍMBOLOS
A vida se traduz em símbolos. Cada ato humano é um símbolo, na alegria ou na dor. Nas catástrofes, incertezas ou desajustes, os símbolos veem, até, o invisível.
Vivemos um momento crítico, com o planeta e a obra divina da Criação ameaçados pela sanha destrutiva. No Brasil, o perigo pode virar horror pela incompreensão dos que detêm o poder político. Já escasso, o diálogo sumiu nestes sete meses.
Quando Jair Bolsonaro opina, não fala como presidente da República, mas como autoritário rei absolutista. Chega a negar dados da ciência. Nega o desmatamento da Amazônia, diz que as medições dos satélites do Instituto de Pesquisas Espaciais "estão erradas" e "mancham o Brasil no Exterior". Ataca veganos e vegetarianos, como se opção alimentar fosse crime.
Em fúria contra o presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, em linguagem vulgar agrediu o pai, Fernando Santa Cruz, morto em 1974 numa prisão da ditadura por integrar a Ação Popular, a esquerda cristã à qual pertenceram o atual senador José Serra e Herbert de Souza, o Betinho da luta contra a fome e a Aids.
Agora, o ápice: quer abrandar as regras que punem o trabalho escravo...
O símbolo disto (e de muito mais) apareceu dias atrás no corte de cabelo de Bolsonaro, mostrado por ele, no Twitter, como ato de governo, publicado e publicitado ao vivo e de viva voz.
Confortável na capa branca do barbeiro, cancelou a reunião com o ministro do Exterior da França. Trocou a respeitável poltrona presidencial pela cadeira do barbeiro. Terá sido uma caricatura de si mesmo?
Mas e os símbolos da resistência a essa cafona monarquia?
O tríplice pesadelo Lula-Dilma-Temer diluiu esperanças mas não nos cegou. Com a Constituição e a lei, há quem resista.
No Supremo Tribunal, a argúcia de Celso de Mello chamou de "inaceitável transgressão à Constituição" o ato de Bolsonaro mudando a demarcação das terras indígenas da Funai para o Ministério da Agricultura, que o Congresso já rejeitara. "É inadmissível e perigosa ameaça à separação dos poderes", lembrou. Outros, como os ministros Fachin, Barroso e Marco Aurélio compõem também a defesa da lei.
Mas, junto aos que detestam o ódio e a discriminação, o melhor símbolo da resistência pela liberdade solidária é a jornalista e escritora Miriam Leitão. Isenta e analítica nos livros, no jornal e na TV, sofreu a fúria verbal de Bolsonaro, que a tachou de "mentirosa" por resistir no passado e, hoje, por revelar verdades.
Nos ataques, o alvo foi a livre imprensa, por ser o grande símbolo.
Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES
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