sexta-feira, 1 de setembro de 2017



Jaime Cimenti

7 de setembro 
Sete de setembro, 

Dia da Independência, há uns 50 e tantos anos, aos sete ou oito de idade, coração de estudante, eu marchava garboso pela rua Marechal Deodoro, hoje a simpática e universal Via del Vino, na minha gloriosa Bento Gonçalves. De tênis Conga bem limpinho, calça azul, camisa branca e gravatinha também bem limpinhos, cantava com os colegas: a vida é feita para mim / que sou estudante /o meu grande amor não tem fim/ meu lema é seguir avante...

Os militares ainda não tinham tomado conta. Em 1964, tinha 10 anos, e a professora adentrou na sala dizendo, com boa intenção e aliviada, que tínhamos nos livrado do terrível comunismo, que seríamos livres para estudar e trabalhar na profissão que escolheríamos livremente. Os anos de chumbo se iniciavam. Em Porto Alegre, lá por 1967, estudava no politizado Julinho.

Aos 13 anos, participava de passeatas que saiam da Filosofia da Ufrgs em direção ao Centro, para protestar contra o acordo Mec-Usaid, a ditadura e as leis que amordaçavam nossa geração. Brasil, ame-o ou deixe-o, ninguém segura o Brasil, diziam os comandantes, ufanistas como versos de Olavo Bilac. Entre os protestos, as esperanças, os rolos da adolescência e a censura, amávamos essa terra tropical, abençoada por Deus e bonita por natureza. Em 1983-1984, o general Figueiredo arrumava as gavetas, pedia o boné e, nas ruas, a gente pedia Diretas Já e tinha esperança na redemocratização.

Tancredo se livrou do pepinão indo para o céu. Enfrentamos o jaquetão e o bigodão do Sarney, os planos econômicos, a chegada e a saída do Collor, o caçador de marajás que acabou caçado por eles. Itamar nos deu o Plano Real, Fusca e mandato honesto. Na livraria do aeroporto de Brasília, é o único presidente que não está mal falado em livros, jornais e revistas. Merece mais luz e espaço nosso presidente provinciano, mas correto. FHC ajustou a política e a economia, criou o hoje bolsa-família e deixou para Lula uma política econômica que este, inteligente, manteve. A era FHC teve seus percalços e falatórios, como quase todas nossas eras e presidentes.

O primeiro mandato de Lula, como quase todos os primeiros mandatos de todos, foi melhor que o segundo. Os problemas apareceram, Dilma foi escolhida para dar seguimento ao governo. O desemprego, os problemas econômicos e os problemas com contas públicas desaguaram no impeachment e em Temer, que se mantém em meio à crise, tentando salvar a pátria com empresários, banqueiros, equipe econômica e diálogo com o congresso e setores da sociedade.

Deus, Nossa Senhora Aparecida e os santos nos ajudem a criar uma nação neste território imenso, cheio de recursos naturais e necessitado de políticas sociais, de educação e de uma economia com empregos para os 13 milhões de irmãos que estão no desvio. "O menino é o pai do homem", disse o poeta. O menino acreditava no Brasil, tinha orgulho dele, marchava garboso pela Pátria, e agora seu filho, já calejado pelos anos e pela História, trabalha e torce por passar a limpo o Brasil na página branca do caderno novo do primeiro dia de aula.

a propósito...

Já fomos brasileiros ufanistas. O mundo era um grande campo de futebol - nós, os maiores campeões. Amargamos complexo de vira-lata perdendo para o Uruguai no Maraca novo. Jeitosos, achávamos que conseguiríamos resolver tudo, inclusive o convívio com a inflação. Isto até resolvemos, com o Plano Real, nossa maior conquista.

Agora é hora de fazer as contas, cair na real, dar um jeito de pensar mais no coletivo do que no individual, o que seria melhor para todos. Hora de juntar os cacos e ir construindo algo novo, com as ferramentas e os tijolos que temos.

Nossa velha casa está meio desmoronada, mas outra, diferente, quem sabe com novos donos ou com todos nós donos, será construída.   - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/08/colunas/livros/582792-a-saga-dos-menda-e-dos-castiel.html)

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