quarta-feira, 6 de setembro de 2017



06 DE SETEMBRO DE 2017
FÁBIO PRIKLADNICKI

DEPOIS DA PÓS-VERDADE



Em 2016, quando o Dicionário Oxford elegeu "pós-verdade" como a palavra do ano, muitos estavam preocupados com as mentiras e meias-verdades divulgadas inclusive por figuras públicas como o candidato eleito à presidência dos Estados Unidos.

Já estava clara a tendência das pessoas acreditarem em notícias falsas que correspondessem a seus anseios ideológicos. Mas, por outro lado, havia pelo menos a esperança de que a verdade triunfaria assim que a mentira fosse desmascarada. Até gigantes da internet começaram a se mobilizar para que seus usuários tivessem mais clareza do que é notícia e do que é boato.

A ideia de que devemos separar o joio do trigo por uma sociedade melhor continua sendo fundamental, mas enfrenta um desafio cada vez maior: pelo menos uma parte da população parece disposta a ignorar os mecanismos reconhecidos de verificação - evidência histórica, pesquisa acadêmica, checagem jornalística - para eleger arautos que divulgam a pós-verdade que cada um deseja ouvir. Entre esses arautos, estão as guerrilhas ideológicas virtuais, os veículos de notícias falsas e os autores de livros intelectualmente desonestos.

Pense na história mais absurda na qual deseja acreditar e você encontrará parceiros para conferir a ela um verniz de realidade. Nunca esteve tão próxima de nós a máxima segundo a qual uma mentira repetida mil vezes se torna verdade.

É ingrato argumentar com base em evidências quando as evidências são cada vez menos relevantes - e as crenças, cada vez mais inabaláveis. O futuro será escrito não por historiadores, mas por jovens metidos a engraçadinhos cuja forma de expressão é o escracho dos que pensam diferente.

fabio.pri@zerohora.com.br

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