Penderecki e Faust fazem de São Paulo 'o' lugar da música clássica
Andre Fossati/Folhapress | ||
A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais regida pelo maestro e compositor Krzysztof Penderecki |
OSESP (avaliação de Penderecki e Faust - ótimo)
QUANDO sáb. (16) às 16h30 (Faust com regência de Penderecki) e dom. (17) às 16h (Faust interpreta as sonatas e partitas de Bach para violino solo)
ONDE Sala São Paulo, Pça. Júlio Prestes, 16, tel. (11) 3667-9500
QUANTO R$ 43 a R$ 213 (sáb.); R$ 85 a R$ 110 (dom.)
CLASSIFICAÇÃO livre
Uma relação de tensão permanente com a tradição, atingida a partir do mergulho na própria subjetividade: assim pode-se definir a fase madura (e mais interessante) do compositor polonês Krzysztof Penderecki (pronuncia-se Penderetski).
Aos 83 anos, ele rege a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) como convidado nesta semana. No programa, obras autorais e o "Concerto n.1" para violino de seu compatriota Karol Szymanowski (1882-1937).
Nos anos 1960, obras como a "Trenódia para as vítimas de Hiroshima" o tornaram célebre pela escrita que permitia desenvolver um aleatorismo original e controlado. Sua voz madura recuperou elementos da tradição, mas não abdicou de sentidos complexos.
Tal como no cinema de Tarkovski (1932-86) ou em um compositor como Schnittke (1934-98), a universalidade de Penderecki não é avessa à religiosidade eslava, e nem a uma relação visceral com a terra natal.
Na quinta-feira (14), público e orquestra o receberam com respeito solene. Ele mesmo, com passos pesados e olhar melancólico, antecipava o caráter do "Hino a São Daniel" (1997), escrito para celebrar os 850 anos de Moscou. A execução foi um dos momentos mais comoventes da atual temporada de concertos.
É uma escrita vocal virtuosística, desdobrada apenas por clarinetes, fagotes, metais, contrabaixos e percussão. Os coros da Osesp parecem agora plenamente sintonizados com a orquestra, ambos partilhando a mesma afetividade.
Na "Sinfonia n.4 - Adagio" (1989), Penderecki mostra sua maestria contrapontística em um discurso ininterrupto de mais de meia hora. Poucos elementos são transmutados continuamente, mas sem nunca deixarem de ser eles mesmos.
Sua regência é como a música que faz: um tanto dura, sempre pensando adiante, quase abdicando do momento presente. Mas a Osesp entende esse discurso como poucas orquestras, e não seria má ideia se ela se dedicasse a registrar esse repertório.
O "Concerto para violino" de Szymanowki, escrito em 1916, traz um compositor de notável autoconfiança em uma narrativa ousada, na qual momentos geniais alternam com um experimentalismo oscilante.
Impecável, a solista Isabelle Faust –artista em residência da orquestra neste ano– revela-se uma das mais completas musicistas da atualidade. Só neste ano, em São Paulo, tocou o concerto de Brahms e a integral para violino e piano de Beethoven.
GRAMOPHONE
Seu Mozart acaba de ganhar o Prêmio Gramophone como "Gravação do Ano", e o público paulistano ainda poderá vê-la neste domingo (17) em uma histórica maratona interpretando as três sonatas e as três partitas para violino solo de Bach (1685-1750).
Com pelo menos quatro movimentos em cada obra –a "Partita n.2" tem uma quinta seção, a célebre "Ciaccona", e a "Partita n.3" tem sete partes–, o recital de Faust fecha uma semana que teve também o Quarteto Emerson pela série Cultura Artística: para quem gosta de música clássica, nos últimos dias São Paulo foi "o" lugar.
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