quarta-feira, 20 de setembro de 2017


20 DE SETEMBRO DE 2017
FÁBIO PRIKLADNICKI

NÃO SOU CAPAZ DE OPINAR


Você certamente se lembra da cena. Durante a transmissão da entrega do Oscar de 2016, a apresentadora Maria Beltrão perguntou à atriz Gloria Pires se ela acreditava que Lady Gaga pudesse abiscoitar a estatueta de melhor canção, ao que a comentarista da noite respondeu: "Não sou capaz de opinar". O resto, claro, é folclore. A repercussão foi tamanha que Gloria resolveu até divulgar um vídeo esclarecendo que se divertiu com os memes criados com a frase dela e que estava bem de saúde. Apenas preferiu não emitir parecer sobre os poucos filmes a que não tinha assistido.

Foi compreensível a surpresa do público. Afinal, Gloria havia sido escalada justamente para opinar sobre os concorrentes. Mas convenhamos que ninguém sabe tudo e que admitir isso é um sinal claro de honestidade intelectual. Coisa rara por aí. Relembro esse episódio justamente agora porque a humildade expressa por Gloria está fazendo falta em meio a tudo isso que está acontecendo: acusações infundadas, demonização dos que pensam diferente, linchamentos virtuais.

Temos muito a aprender com a reação de Gloria porque ela resgata - não seria exagero dizer - um princípio filosófico. "Só sei que nada sei", disse Sócrates. O que ele quis dizer com isso? Que preciso admitir minha ignorância, e isso não é vergonha alguma. Enquanto não me informo sobre o assunto, devo suspender meu juízo. O conhecimento é adquirido com tempo e paciência.

O problema - sim, eu sei - é domar nosso instinto de julgamento. Não podemos ouvir uma acusação que já nos apressamos em apontar o dedo junto, sem ter parado um minuto para pensar e tirar nossa própria conclusão. Antes de dar razão aos linchadores da moda, devemos nos questionar se não estamos sendo injustos. Porque o próximo pode ser você.

FÁBIO PRIKLADNICKI

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