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hélio schwartsman

A vingança de Lombroso

	Universidade de Stanford
	Estudo criou modelos de rostos com maior ou menor probabilidade de pertencer a homossexuais

16/09/2017  02h00

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SÃO PAULO - Cesare Lombroso (1835-1909) ganhou lugar de destaque no hall da vergonha mundial ao sustentar que bandidos poderiam ser identificados por traços físicos. Seu criminoso atávico tinha a testa inclinada, braços compridos, orelhas grandes e a face assimétrica.

Tal descrição era uma bobagem, não passando de preconceitos travestidos de ciência. Mas a intuição fundamental do criminologista italiano, a ideia de que pode haver correlação entre características físicas e padrões de comportamento, não só procede como vem ganhando uma concretude, digamos, lombrosiana.

Pesquisadores de Stanford causaram sensação ao mostrar que um programa baseado em inteligência artificial consegue identificar com bons índices de acerto a orientação sexual de uma pessoa a partir apenas de uma foto do rosto. Comparando pares de fotografias de homens, uma de um homossexual e outra de um heterossexual, a máquina apontou corretamente o gay 81% das vezes. Quando a identificação é feita por seres humanos, a taxa de sucesso também é alta, mas menor: 61%.

Embora pareça mágica, a explicação é mais mundana. O nível de exposição do embrião a hormônios durante a gestação afeta várias medidas anatômicas e também a orientação sexual. Marcas sutis dessa exposição ficam registradas em alguns aspectos do rosto e de outras regiões. É famosa a relação entre o tamanho do dedo indicador e o do anular, a 2D4D ratio. Ela não apenas traz pistas sobre a sexualidade como também sobre doenças que a pessoa tem predisposição para sofrer.

Michal Kosinski, autor principal do trabalho, diz que, além das preferências na cama, rostos podem revelar outras características como a inteligência e inclinações políticas.

Há partes do corpo difíceis de esconder. A menos que passemos todos a vestir burcas, pode-se prognosticar uma paulatina e significativa redução da esfera da privacidade.