domingo, 24 de setembro de 2017



Doria murcha um pouco, Meirelles brota

Nelson Antoine/Folhapress
João Doria na sede da Prefeitura de São Paulo
João Doria na sede da Prefeitura de São Paulo
João Doria desinflou. Não tanto quanto o preço de batatas e feijões, que baixou quase 50% em um ano, animando os sonhos de supremo poder de Henrique Meirelles, a flor de candidato deste início de primavera. Mas o prefeito de São Paulo murchou um tanto.

Ironia à parte, o desencanto precoce com Doria reanima a feira de candidaturas: um ex-ministro do Supremo, o ministro da Fazenda ou qualquer um que queira ao menos fazer nome em eleição nacional e faturar a lembrança em disputas futuras.

Doria brotou rápido, no Carnaval. Nos 15 dias finais de fevereiro, passou de rumor em festas de ricos a nome para bater Lula. Não tinha dois meses de prefeitura.

Mas o prefeito não disparou nas pesquisas. Na prática, anda empatado com Geraldo Alckmin, que é carne de pescoço e resistiu à onda de deslumbre doriano. Tem máquina e 40 anos de política. Ao fim do mandato, terá sido governador por quase 14 anos, uma Angela Merkel do conservadorismo paulista, mal comparando.


A novidade lustrosa de Doria embaçou ainda com as primeiras críticas, em parte derivadas da superexposição, de brigas desnecessárias, descaso com a cidade e
outras viagens.


Certa elite também ficou mal impressionada com Doria por sua insciência de políticas públicas e de problemas brasileiros; com seu destrambelhamento na política. É opinião minoritária, de gente porém relevante, de raros ricos que se ocupam de fato de assuntos nacionais.

Doria talvez apenas padeça de expectativas exageradas. Seu fã-clube entre ricos despolitizados ainda é forte. Na semana passada, levou a cúpula do DEM para jantar. Até dezembro, data das convenções do PSDB, vai brigar pela candidatura, ainda que seja improvável sua desfiliação caso perca. Enfim, sua falta de estofo logo deixaria de ser empecilho notável caso fosse o remédio para Lula. Mas a candidatura do ex-presidente definha.

Sem Lula e sem candidato que desponte nas pesquisas, o jogo muda. O desnorteio presidiário do PMDB colabora para a confusão, assim como o renascimento do DEM, quase defunto nos anos petistas. As porteiras das candidaturas ficam abertas. Por isso também políticos começam a pensar no teste da hipótese Meirelles.

Sim, a fase é de testes. PMDB, DEM e Centrão estão na feira, não sabem ainda se para comprar ou vender. Candidatos visitam os partidos de fato maiores do país. Isto é, cortejam ruralistas, por exemplo. Tentam arranjar base eleitoral entre evangélicos, como Meirelles, mas não só.

Apresentam credenciais de reformista-mor a empresários, que no entanto são muitos grupos e ainda mais carentes de lideranças, pois várias se recolheram, avariadas por operações da polícia ou com medo de se misturar no rolo. A CNI é diferente da carcomida Fiesp, ambas diferentes da finança, que por sua vez é mais ponderada nos bancos maiores.

Pesquisas mais recentes mostram o óbvio, o povo ainda à procura de um "outro", descrente de mudança política, mais pessimista com a economia que a minoria mais remediada e com má opinião sobre reformas. Daqui a seis meses, época de definição de candidaturas, o mal-estar econômico será menor, mas daí não se pode tirar conclusão alguma sobre o estado de simpatias do eleitorado.

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