Existe uma cultura do estupro?
Diego Padgurschi /Folhapress | ||
Casal diante de cartazes contra violência sexual em tapume no Masp, em São Paulo |
SÃO PAULO - É indiscutível que impera no Brasil uma cultura ainda bastante machista, mas daí a falar numa cultura do estupro, como vem fazendo muita gente que respeito intelectualmente, me parece um passo indevido. Ao contrário, acho que o estupro é um dos crimes que as pessoas mais repudiam e se comprazem em punir.
O melhor exemplo disso foi dado pelo grande Drauzio Varella em sua coluna de sábado (2): nas cadeias, estupradores precisam ser mantidos isolados da população carcerária geral, caso contrário são trucidados com requintes de crueldade. Ora, se até nos presídios, onde vige uma moral permissiva em relação a um amplo rol de delitos, o estupro é visto como algo imperdoável, a situação não pode ser muito diferente nos segmentos sociais que abraçam éticas mais kantianas.
A ampla repercussão que casos como o da ejaculação no ônibus ganham na mídia e nas redes sociais e a viva indignação que geram são mais um indício de que a condenação moral do estupro e de outros delitos de cunho sexual é robusta e só aumenta.
Já as pesquisas de opinião que revelariam a tal da cultura do estupro costumam abusar de frases ambíguas como "a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada", que podem ser interpretadas tanto em termos probabilísticos —mulher que usa trajes sumários tem mais chance de sofrer violência sexual— como em termos morais —vestindo-se desse jeito, bem feito se ela foi estuprada. É preciso cautela na hora de avaliar os resultados dessas sondagens.
A história de como diferentes sociedades trataram mulheres e minorias ao longo dos séculos não é algo que enalteça o gênero humano. Mesmo assim, é preciso reconhecer que, da segunda metade do século 20 para cá, ao menos no Ocidente houve genuíno progresso moral. Abusos contra esses grupos são cada vez menos tolerados.
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